*Projeto da vereadora Valerinha, cria mais um canal de denúncia e amplia a rede de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica em Três Pontas
A sessão ordinária da Câmara Municipal de Três Pontas, realizada na noite desta segunda-feira (18), foi marcada por tranquilidade, com análise de apenas dois projetos de lei — um de iniciativa do Executivo e outro do Legislativo. Apesar da pauta enxuta, os vereadores utilizaram os espaços do Pequeno e Grande Expediente para prestar contas, apresentar demandas da população e reforçar debates sobre políticas públicas. A reunião também estreou a nova iluminação do plenário.
A vereadora Valéria Evangelista Oliveira (Valerinha – PL) destacou as ações do Agosto Lilás, mês de enfrentamento à violência doméstica. Ela relatou a realização da Roda de Conversa na Câmara, que reuniu o Conselho da Mulher, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação e outros órgãos ligados à rede de proteção. Segundo Valerinha, o encontro foi produtivo e reforçou o papel do poder público na defesa das mulheres.
A parlamentar ainda anunciou a realização de uma palestra sobre assédio no ambiente de trabalho e violência psicológica, aberta à comunidade, e convidou empresários de bares, restaurantes, clubes, hotéis e casas de entretenimento para um diálogo. Os estabelecimentos que aderirem à iniciativa receberão um selo de reconhecimento por estarem aptos a identificar situações de violência nesses espaços. Para encerrar as atividades do mês, ela confirmou a “Corrida por Elas”, em parceria com a Polícia Militar, no dia 31 de agosto, na Avenida Oswaldo Cruz. Valerinha também compartilhou sua participação em um encontro regional de prefeitos e prefeitas, em Lavras, que discutiu estratégias conjuntas para a captação de verbas e emendas parlamentares.
O vereador Alexandre Corrêa (Enfermeiro – PSB) saiu em defesa do colega Francisco Fabiano Diniz Júnior (Professor Popó – PSB), diante de críticas recebidas pelo trabalho voluntário do parlamentar com cães de rua. Alexandre ressaltou que Popó mantém o Recanto das Vidinhas em sua própria residência, sem qualquer recurso público, arcando pessoalmente com os custos.
Já o vereador Maciel Ramos (Republicanos) elogiou a organização do Festival Nacional da Canção, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo, que, segundo ele, valorizou a música e os artistas. Maciel também destacou a campanha de adoção consciente realizada na semifinal do TAC, quando os jogadores entraram em campo acompanhados de cães disponíveis para adoção.
O próprio Professor Popó agradeceu o apoio do colega e destacou a boa receptividade da ação no jogo do TAC, que foi de iniciativa dele. Ele ainda ressaltou a atuação política de seu amigo Altieres, funcionário do Hospital São Francisco de Assis, que, segundo ele, tem buscado recursos importantes para o município.
O vereador Daniel de Paula Rodrigues (PV) voltou a cobrar a reativação do Conselho Municipal da Juventude, ressaltando a perda de recursos que a cidade enfrenta sem o órgão em funcionamento, especialmente em áreas de infraestrutura e políticas voltadas à juventude. Ele defendeu também a criação de uma secretaria específica para tratar das políticas de juventude e das mulheres. Em suas visitas de bairro, destacou as demandas do Botafogo, que foram levadas em forma de indicações à Prefeitura.
O vereador Roberto Donizetti Cardoso (PL), por sua vez, cobrou do Governo de Minas Gerais providências quanto à construção da terceira faixa da MG-167, entre Três Pontas e Varginha, obra aguardada pela população e fundamental para a segurança no trânsito da região.
Encerrando as manifestações, o vereador Geraldo José Prado (Coelho – PSD) também fez referência ao Festival Nacional da Canção, parabenizando o trabalho do vice-prefeito e secretário de Cultura, Maycon Douglas Vitor Machado, por ter garantido a etapa do evento na cidade.
Criação da Procuradoria da Mulher
Abrindo a pauta de votações desta segunda-feira (18), os vereadores aprovaram projeto de autoria do Executivo que autoriza suplementação orçamentária de R$ 172.680,69 na Secretaria Municipal de Saúde. O recurso será destinado à APAE de Três Pontas, para custeio das ações da Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência (RCPD).
Na sequência, foi analisado o projeto de iniciativa da vereadora Valerinha, que institui a Procuradoria da Mulher no âmbito do Legislativo trespontano. A proposta foi a que mais gerou repercussão na noite, recebendo elogios de parlamentares e suscitando um depoimento pessoal do vereador Geraldo José Prado (Coelho – PSD).
A Procuradoria terá como finalidade combater a violência e a discriminação de gênero, qualificar os debates sobre o tema dentro da Câmara e atuar como canal de recebimento, encaminhamento e acompanhamento de denúncias e reivindicações da população junto aos órgãos competentes.
Entre as atribuições previstas estão: fiscalizar e acompanhar programas municipais voltados à promoção da igualdade de gênero; implementar campanhas educativas e antidiscriminatórias; fortalecer a rede de proteção no enfrentamento à violência contra a mulher; promover um espaço permanente de discussão de políticas públicas, com responsabilização dos agressores.
O órgão será independente, com suporte técnico da estrutura da Câmara. A cada dois anos, um(a) vereador(a) será eleito(a) para exercer a função de procurador(a), em eleição vinculada à escolha da Mesa Diretora.
A proposta segue modelo já existente em outras Casas Legislativas, a exemplo da Câmara dos Deputados, que criou a Procuradoria da Mulher em 2009 e, desde então, incentiva a instalação de estruturas semelhantes em assembleias e câmaras de todo o país.
Valerinha destacou que a criação da Procuradoria responde a um questionamento que recebeu em Brasília, quando foi perguntada se seu município já possuía o órgão. Desde então, passou a articular a proposta, reforçando que a defesa das mulheres é prioridade em seu mandato. Para ela, o canal institucional ampliará a rede de apoio às vítimas, além de possibilitar maior cobrança aos agressores. A vereadora também reforçou a necessidade de instalação de um Centro Especializado de Acolhimento à Mulher (CEAM) em Três Pontas, para oferecer atendimento técnico e acolhedor às vítimas. “Criando a Procuradoria, a Câmara e o Município pontuam em Brasília e mostramos de fato nossa preocupação em prevenir e reprimir o crime contra as mulheres”, afirmou.
O depoimento de Coelho
Antes da votação final, o vereador Coelho pediu a palavra e fez um pronunciamento que marcou a sessão. Ele defendeu que a Procuradoria da Mulher não seja apenas uma estrutura no papel, mas que tenha efetividade, com ações concretas e permanentes. Em seguida, fez um relato pessoal de sua trajetória, relembrando um episódio que em março de 2022 trouxe forte repercussão.
O parlamentar contou que, após 25 anos de casamento, enfrentou uma separação traumática, marcada pela acusação de traição por parte da então esposa. Diante da dor emocional, acabou perdendo o controle e se envolvendo em uma ocorrência policial que ganhou grande destaque na imprensa regional. Em um momento de desespero, utilizou um revólver que mantinha em casa e realizou três disparos contra o portão da residência da família do novo companheiro de sua ex-esposa.
O caso foi amplamente noticiado por emissoras de TV e jornais de toda a região, colocando seu nome em evidência negativa e expondo sua vida pessoal ao julgamento público. Coelho relatou que, ciente da gravidade do ocorrido, entregou a arma à Polícia Civil, evitando a prisão em flagrante, mas enfrentando duras consequências políticas e familiares. Ele recordou que naquela época foi alvo de duras críticas, além de viver um período de isolamento, onde teve de lidar não apenas com os processos judiciais, mas também com a reconstrução de sua imagem.
Ao revisitar essa história no plenário, Coelho afirmou que hoje reconhece ter errado e destacou que, com o tempo, buscou amadurecimento e aprendizado. Disse que a perdoou e conseguiu reconstruir a relação de respeito e amizade com a ex-esposa, com quem compartilha filhos e netos, e revelou que no último fim de semana chegaram a se reunir em família, em um momento de paz e convivência. — “Quem ama de verdade não ameaça, não agride. Quando um relacionamento chega ao fim, cada um deve seguir seu caminho e sua vida”, disse, em tom de desabafo.
Segundo ele, o episódio de seu passado serve de exemplo do que não se deve fazer em situações de conflito conjugal e reforça a importância da criação de mecanismos como a Procuradoria da Mulher.
O depoimento encerrou as discussões da noite e antecedeu a votação, que aprovou por unanimidade a criação da Procuradoria da Mulher em Três Pontas.
