
*A união dos maestros emociona o público e marca um novo capítulo na tradição musical trespontana
Três Pontas viveu uma tarde inesquecível neste domingo (5), com a realização do 1º Encontro de Fanfarras, promovido pela Associação dos Músicos de Três Pontas, com apoio da Secretaria de Cultura, Lazer e Turismo e de Esportes. O evento transformou o Estádio Municipal Ítalo Tomagnini, o Campo do TAC, num verdadeiro palco da cultura, reunindo mais de 500 estudantes de oito escolas do município e da Banda da Apae, em um espetáculo vibrante de som, cor, ritmo e emoção.
A arquibancada coberta ficou lotada. Famílias inteiras ocuparam cada espaço para prestigiar os filhos e sobrinhos que integram as fanfarras. De crianças de colo a idosos, o público se emocionou com as apresentações, que puderam ser vistas com mais calma e conforto do que no desfile de 3 de julho, aniversário da cidade. O ambiente era de festa e orgulho. Muitos se levantaram, foram à beira do campo e registraram em fotos e vídeos o que consideraram um momento histórico: o primeiro encontro de fanfarras de Três Pontas.
A força da união entre maestros e músicos
A ideia do encontro nasceu de uma vontade antiga dos maestros trespontanos: permitir que as fanfarras, que passam meses se preparando para o desfile cívico, tivessem outros momentos para se apresentar. Eles se desdobram durante o primeiro semestre em ensaios intensos, reinventam arranjos, coreografias e formações, e muitas vezes tinham apenas o dia 3 de julho para mostrar tudo o que produziram.
Dessa união de esforços e amizade nasceu o Encontro de Fanfarras — um evento que mostrou o quanto os maestros de Três Pontas estão comprometidos com a educação musical e a valorização cultural da cidade.

“O sonho deste evento era de todos nós maestros. A gente se dá a mão o ano inteiro. Um maestro visita o ensaio do outro, dá dicas, ajuda com os arranjos. O som usado aqui foi compartilhado: cada um trouxe um pouco e tudo deu certo”, contou emocionado o maestro Wander Scalioni Chagas, que rege tanto a Corporação Musical Luiz Antônio Ribeiro quanto a fanfarra da Escola Estadual Presidente Tancredo Neves.
Os maestros que conduzem as fanfarras são conhecidos por sua competência e amizade. Mesmo concorrendo entre si em festivais como o Canto Aberto e o Festival Nacional da Canção (Fenac), eles mantêm uma parceria que fortalece a música trespontana. “Estamos aqui para nos ajudar. A união é o que faz a diferença e o que torna a música viva em Três Pontas”, destacou outro maestro, reforçando o espírito coletivo que deu origem ao evento.
Um público empolgado e apresentações de tirar o fôlego
As oito fanfarras das escolas Presidente Tancredo Neves, Deputado Teodósio Bandeira, Jacy Junqueira Gazola, Monsenhor João Batista da Silveira, Professora Marieta Castro, Cônego José Maria, Colégio Cootec e a Banda da Apae deram um show de talento e criatividade.
A cada apresentação, a plateia aplaudia, cantava e vibrava com as canções modernas incluídas nos repertórios, que se misturavam às tradicionais marchas. Um dos grandes destaques foi a Banda da Apae, regida pelo maestro Helbert Gama, que ficou no centro do campo e arrancou lágrimas da plateia. A superação dos meninos e meninas com deficiência encantou o público e mostrou o poder transformador da música.
Outro momento que chamou a atenção foi a apresentação da fanfarra da Escola Jacy Gazola, que utilizou um instrumento especial, o Quadriton, composto por quatro surdos tocados em conjunto. O resultado foi um som potente e harmonioso que empolgou os espectadores.
As arquibancadas vibravam como em uma final de campeonato, mas desta vez a emoção era outra: a da cultura, do talento e do orgulho trespontano.
Apoio do deputado Caixa garante a continuidade dos ensaios
O 1º Encontro de Fanfarras também marcou o início de uma nova fase para o movimento musical estudantil de Três Pontas. Um recurso destinado pelo deputado estadual Mário Henrique Caixa vai garantir que os maestros continuem trabalhando durante todo o ano, e não apenas até o desfile cívico de julho.
Segundo o maestro Wander Scalioni, o recurso é fundamental para manter viva a musicalidade das escolas. “Com esse apoio, as fanfarras poderão continuar ensaiando o ano inteiro, fortalecendo a formação musical dos alunos e ampliando suas apresentações, como por exemplo no aniversário de cada estabelecimento de ensino.
O secretário municipal de Cultura, Maycon Machado, explicou que a iniciativa surgiu a partir de um pedido do presidente da Câmara, vereador Myller Bueno, que solicitou um repasse maior para as fanfarras. “Tanto os jovens quanto as famílias se emocionaram com o espetáculo. Esse aumento de repasse, apesar de modesto, fez toda a diferença. Estamos trabalhando para que esse valor cresça ainda mais nos próximos anos”, afirmou o secretário. Representando o prefeito Luisinho que já tinha compromissos assumidos anteriormente, Maycon disse que a gestão está muito feliz em realizar eventos que valorizam as raízes trespontanas.
Com a verba, os maestros poderão seguir com os ensaios e levar a música a mais lugares. Um exemplo é a Escola Tancredo Neves, que tem alunos na Fazenda da Esmeralda. Antes, muitos deles não conseguiam participar do desfile por falta de transporte, mas agora a Corporação Musical Luiz Antônio Ribeiro vai até a comunidade realizar apresentações exclusivas.
Valorização da tradição e reconhecimento público

A vereadora Valéria Evangelista Oliveira (PL) também esteve presente e lembrou com emoção de seu tempo como diretora da Escola Tancredo Neves. Foi em sua gestão que nasceu a Banda Marcial Djalma Tiso, criada em parceria com o saudoso professor Mário Fernandes de Carvalho. “Ver o quanto esse movimento cresceu e se fortaleceu me deixa muito feliz. A música é uma das maiores riquezas da nossa cidade”, afirmou.
O presidente da Câmara, Myller Bueno, destacou a grandeza do momento. “Ver as arquibancadas lotadas, oito fanfarras se apresentando juntas e perceber que Três Pontas mantém viva uma cultura secular é motivo de orgulho. Nosso estádio, que já foi palco de conquistas esportivas, agora também é palco para o espetáculo da música”, comemorou.
Ele também adiantou que outras escolas já estão se mobilizando para participar da próxima edição. “No ano que vem, teremos ainda mais escolas, incluindo o CAIC. O movimento só tende a crescer.”
Homenagem à Corporação Musical Luiz Antônio Ribeiro
A abertura do evento foi marcada por um momento de respeito e reverência: a apresentação da Corporação Musical Luiz Antônio Ribeiro, que completou mais de 125 anos de história e foi homenageada pelas fanfarras participantes.
Fundada ainda no século XIX, há registros de que a corporação esteve presente no funeral do Beato Padre Victor e nas festividades de sua beatificação. Inicialmente chamada de Banda 7 de Setembro, ela recebeu o nome atual na década de 1970, em homenagem ao saxofonista Luiz Antônio Ribeiro, um de seus membros mais queridos.
Ao longo dos anos, a Corporação participou de momentos marcantes da história trespontana, como a homenagem ao compositor Gileno Tiso, autor do Hino de Três Pontas, e apresentações diante de figuras históricas como Aureliano Chaves, Josino de Brito e Expedito Franklin Reis.
Hoje, sob a regência do maestro Wander Scalioni, a Corporação conta com cerca de 30 músicos de 15 a 70 anos e segue atuante em diversos eventos culturais e religiosos, incluindo o Festival Canto Aberto, o Fenac, o Cortejo de Natal e o Desfile de 3 de Julho.
O grandioso bandão e o Hino de Três Pontas
O encerramento do encontro foi simplesmente arrebatador. Pela primeira vez na história, todas as fanfarras se uniram em um só grupo, formando um enorme bandão.
Misturando as cores dos uniformes e os sons dos instrumentos, maestros e estudantes alinharam suas fileiras e, sob o comando coletivo, tocaram o Hino de Três Pontas.
No centro, a Corporação Musical Luiz Antônio Ribeiro recebeu a homenagem das fanfarras, cercada por alas coreografadas e bandeiras que se moviam em harmonia. O público, de pé, cantou junto e se emocionou com o espetáculo.
Enquanto o entardecer chegava e as primeiras luzes da noite se acendiam, as notas ecoavam pelo Estádio Ítalo Tomagnini, marcando o fim de uma tarde que ficará para sempre na memória de Três Pontas.
O 1º Encontro de Fanfarras não foi apenas um evento — foi um reencontro com as origens musicais da cidade, um símbolo de união, orgulho e continuidade de uma tradição que há mais de um século embala os corações trespontanos.
