O que mais se fala na atualidade são as medidas sanitárias para evitar a Covid-19. Mas, e depois que a pessoa contrai a doença, passa pelo período de isolamento ou até se interna na fase aguda do tratamento? As sequelas deixadas pela Covid-19 são motivos de preocupação médica e está demandando uma crescente procura aos consultórios médicos. É preciso procurar assistência, pois elas podem evoluir silenciosamente e comprometer seriamente a saúde das pessoas.

A recuperação do paciente que teve a Covid-19 não termina no momento da alta. Depois de superar a doença, é preciso investigar e tratar possíveis sequelas que muitas vezes evoluem sem dar sinais, resultando em danos graves à saúde. O médico pneumologista, Dr. Marcus Vinícius Souza Couto Moreira, concedeu uma entrevista ao Programa Passando a Limpo da Equipe Positiva e abordou o tema.

Clique a acesse o site Recomeça Minas

Quanto tempo a pessoa fica com vírus da Covid-19?

A doença da Covid-19, causada pelo coronavírus, tem duas fases: a fase do contato viral e a fase inflamatória, que é aquela resposta que o organismo vai ter diante da infecção pelo vírus. A fase da multiplicação viral dura em torno de 14 dias e por isso que recomendamos que as pessoas fiquem isoladas em casa nesse período, devido ao risco de transmissão da doença. A partir do início dos sintomas começa a fase inflamatória, que acomete todo o organismo, incluindo os pulmões, o sistema nervoso (olfato, paladar) e o coração.

Essa segunda fase é a mais difícil?

Essa fase varia de pessoa para pessoa. Em famílias acometidas pela doença, uns nem sabem que tiveram a doença e os outros vão parar na UTI. Ou seja, isso varia muito dependendo do grau da resposta inflamatória.

Os sintomas variam muito de pessoa para pessoa?

Os sintomas iniciais e tardios também variam muito entre as pessoas. Há relatos de perda do olfato e do paladar, febre, diarréia, fraqueza muscular, cansaço, perda da memória e queda de cabelo.

Existem sintomas que ficam mais tempo do que a doença?

A fase de recuperação da doença é lenta e progressiva. Há sintomas que podem durar por meses. Existem estudos mostrando pacientes sintomáticos por 6 a 9 meses e até um ano. As pessoas precisam fazer um acompanhamento com uma equipe multiprofissional, incluindo psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e enfermeiros. A fase de reabilitação é muito importante para que as pessoas possam retomar as suas atividades normais.

A Covid-19 pode deixar sequelas irreversíveis?

Isto é que estamos acompanhando no mundo inteiro. Para responder essa pergunta vários estudos estão sendo feitos, com um monitoramento de longo prazo para ver até que ponto é possível reverter essas sequelas ou não. A fibrose pulmonar é uma complicação temida, porque há uma cicatrização irreversível do pulmão. Com isso há um comprometimento da troca de oxigênio, causando falta de ar e cansaço durante o esforço físico. Outras também importantes são as arritmias cardíacas, perda da memória e os acidentes vasculares cerebrais.

Falando destas sequelas, o que seus pacientes relatam que ser mais difícil?

A sequela relatada mais complicada é a perda da memória, por ter uma recuperação mais difícil. As outras também têm o seu grau de dificuldade.

Tratar essas sequelas é uma tarefa de sacrifício ao paciente?

As sequelas restringem muito a vida das pessoas. É fundamental ter uma equipe multiprofissional, que vai empenhar em reabilitar o paciente daquele problema que ele teve.

A Covid-19 afeta somente o pulmão ou outros órgãos são afetados também pelo vírus?

A doença acomete todo o organismo, provocando uma inflamação no corpo inteiro. Além do pulmão pode afetar o cérebro, os rins, o fígado, o intestino, o coração, os vasos sanguíneos, o pâncreas e até a pele.

Muita gente fala que teve um diagnóstico que aponta que está com 30%, 50% do pulmão comprometido. O que seria isto?

Esse comprometimento pulmonar é detectado pela radiografia ou tomografia computadorizada do tórax, que é um exame mais detalhado. Estas porcentagens representam o grau de acometimento pulmonar causado pelo coronavírus. Quanto maior a inflamação, maior a tendência de gravidade da doença, o que compromete a oxigenação do sangue e pode levar até a necessidade de intubação.

Qual a relação entre a Covid-19 e trombose? É uma sequela?

A Covid-19 é uma doença que atinge artérias e veias do organismo, causando inflamação e irritação dentro delas. O resultado pode ser a formação de coágulos, causando a trombose. O tratamento é realizado por meio de anticoagulantes.

Quer dizer que a trombose pode atingir qualquer órgão?

Sim. A trombose pode ser formada em qualquer vaso sanguíneo que tenha a sua circulação normal comprometida. Pode ocorrer no intestino e nos braços, por exemplo.

Os pacientes que são acometidos pela Covid-19, de certa forma, temem muito serem intubados. Porque você acha que existe esse medo?

Porque existe aquele mito que todo o paciente intubado que vai para UTI, evolui para o óbito e isso não é verdade. A maioria dos pacientes que necessitam ir para UTI estão com o estado de saúde agravado e precisam de cuidados especiais. Quando os pulmões ficam muito inflamados devido a Covid-19, o procedimento pode ser necessário.   

O que é a intubação?

O procedimento de intubação consiste em passar um tubo pela a boca até o pulmão, ajudando a oxigenação do corpo e descansando os músculos da respiração. Com isso há o  aumento da chance de recuperação.

Você acha necessário o acompanhamento psicológico dessas pessoas que tiveram a Covid-19?

Com certeza, principalmente porque as pessoas que tiveram a doença podem ter tido experiências ou vivenciado coisas ruins. A rotina de trabalho em uma UTI, por exemplo, expõe aos pacientes situações em que não estão acostumados. Isso pode causar uma insegurança e incerteza de como a doença vai se manifestar neles e sobre suas consequências futuras. Essa condição é conhecida com estresse pós-traumático.

As formas de tratamento foram modificadas ao longo deste tempo, devido aparição de novas variantes?

Em relação ao tratamento, pudemos observar que houveram mudanças ao longo do tempo por se tratar de uma doença nova. Surgiram hipóteses, estudos e experiências que mostraram quais eram as melhores opções de tratamento. Isso foi mudando todo dia, e sempre tem coisa nova. O fato é que ainda não existe nada específico para o coronavirus. O tratamento utiliza medicamentos para melhorar os sintomas do paciente e tentar diminuir os danos causados pela infecção viral.

Então essa medicação precoce não é indicada?

Os estudos indicaram que não tem eficácia. Medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina ou colchicina não tem comprovação científica.

A saúde pública no Brasil está preparada para as demandas provocadas pela Covid-19?

O sistema de saúde pública hoje está à beira de um colapso. Sempre tiveram dificuldades mesmo, mas a demanda está muito grande e gerou um grande volume de atendimentos, internações e solicitações de vagas em enfermaria e UTI. Tal fato causou uma sobrecarga de trabalho aos profissionais que trabalham dentro das unidades de saúde, levando a exaustão.

Vacinação e medidas preventivas, como o uso de máscara e álcool em gel, são o melhor caminho para enfrentar essa pandemia?

Esse atualmente é o único caminho para acabar com a pandemia. Temos que continuar com o uso de máscara, para evitar o contato direto e indireto com o vírus, manter a higienização das mãos e principalmente tomar a vacina seguindo as orientações da Secretaria de Saúde. Esse conjunto de fatores é que vai favorecer o controle e o término da pandemia.

As pessoas podem acreditar nas vacinas?

Sim. Eu peço que todos se vacinem. Infelizmente ainda não tem vacina para todo mundo, mas ela está chegando.

Você acha que algum dia a gente vai voltar nossa vida normal como a gente tinha antigamente?

As pessoas até brincam que é um novo normal. Eu acho que as pessoas vão mudar muito a percepção de mundo, de como se comportar. Neste novo normal, as pessoas estão descobrindo isso. É um preço muito pesado e muito alto, mas igual era antes não vai ser mais. As relações humanas foram muito fragilizadas. As pessoas precisam respeitar mais as outras e cuidarem melhor de si. A situação vai melhorar. É uma fase ruim que nós estamos passando, mas a coisa vai caminhar.

Quando a vacinação atingir pelo menos 70% da população, aí sim vamos seguir o exemplo de outros países como os Estados Unidos e na Europa, onde as pessoas estão começando a tirar a máscara e ter a vida normal.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here