*Defesa abandona plenário reclamando falta de acesso ao processo. Juiz fala em manobras protelatórias. Nova data é 28 de agosto

A manhã desta quinta-feira (07) foi marcada por mais um capítulo de frustração e revolta para familiares, amigos e pessoas próximas da adolescente Thaís Vitar Carolino, assassinada com 16 anos brutalmente em 2010, em Três Pontas. Pela quarta vez consecutiva, o julgamento do acusado pelo crime não aconteceu.

Assim como em outras ocasiões, o dia começou com manifestações pacíficas em frente ao Fórum Dr. Carvalho de Mendonça, onde o júri popular seria realizado. Com reforço na segurança, as 8h20 da manhã, o acusado de 35 anos chegou para assentar no banco dos réus. Familiares e apoiadores da vítima, muitos dos quais conheceram ou se sensibilizaram com a história após sua reconstituição pela Equipe Positiva em junho, empunhavam faixas e cartazes com um único apelo: justiça por Thaís e seu filho.

Defesa alega cerceamento de acesso à cautelar e abandona plenário

O clima já era tenso antes mesmo da abertura oficial do Salão do Júri. Quando a sessão teve início, uma intensa discussão se instaurou entre o juiz responsável pelo caso e o novo advogado de defesa do réu, Dr. Dalton Braga, nomeado a dois dias recentemente por escolha do próprio acusado.

O advogado solicitou o adiamento do julgamento, alegando que não teve acesso completo a uma medida cautelar que corre em segredo de justiça, mas que, segundo ele, é fundamental para o pleno exercício da defesa. A cautelar conteria elementos como decisões anteriores, medidas restritivas e os fundamentos legais da prisão preventiva do réu.

O juiz rebateu a alegação, afirmando que o conteúdo da cautelar não é essencial para a condução do júri e que as cópias estavam à disposição da defesa. Ainda assim, ofereceu ao advogado um prazo de 30 minutos para consultar o material. Dalton Braga recusou a proposta, alegando que o tempo mínimo necessário para análise técnica seria de 24 horas.

Diante da negativa do adiamento, o defensor optou por abandonar o plenário, deixando o réu sem representação legal naquele momento, o que tornou inviável a continuidade do júri. O juiz interpretou a atitude como parte de uma sequência de manobras protelatórias e decretou a prisão preventiva do acusado, que permanece sob custódia.

Acusação fala em estratégia articulada para impedir julgamento

O advogado Fábio Gama Leite, assistente de acusação, afirmou que a postura da defesa representa mais uma tentativa articulada de evitar que o acusado seja julgado. Para ele, as alegações de cerceamento e de confissão forçada são estratégias usadas frequentemente por réus que não possuem base argumentativa sólida.

“A linha acusatória será mantida conforme a denúncia apresentada em 2010: homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e aborto provocado. Alegar que houve coação para obter a confissão é o argumento de quem não tem outra saída. Não há qualquer prova de que o réu tenha sido forçado, nem que tenha ocorrido qualquer irregularidade naquela época. O que se viu nos últimos meses é uma tentativa desesperada de evitar o júri, típica de um assassino”, declarou.

O assistente de acusação ainda acrescentou que a população de Três Pontas e, principalmente, a família de Thaís e do bebê que ela esperava, merecem uma resposta da Justiça após tantos anos de espera e sofrimento.

Família desabafa após mais um adiamento: “15 anos de luto e frustração”

A irmã da vítima, Michele Vitar, expressou, com profunda tristeza, a frustração da família diante de mais um adiamento do júri.

“A família espera há 15 anos por justiça. São 15 anos de luto, 15 anos correndo atrás para que a justiça seja feita. E quando chega a hora, sempre inventam argumentos para adiar. A sensação é de tristeza, angústia, porque é muito difícil ver que, depois de tudo o que aconteceu, a Justiça ainda continua tão lenta desse jeito”, disse Michele emocionada.

Acusado fugiu da polícia para evitar presença no juri

Dois dias antes do júri, na noite de terça-feira (05), o acusado protagonizou uma fuga alucinante pelas ruas de Três Pontas ao tentar escapar de uma operação da Polícia Civil que buscava cumprir mandados de busca, apreensão e prisão preventiva, expedidos após a dificuldade de localizá-lo para ser intimado.

Ele foi localizado na casa da irmã, no bairro Bom Pastor. As equipes policiais, em viaturas descaracterizadas, cercaram a residência e aguardaram sua saída. Ao perceber a aproximação das viaturas, o acusado entrou rapidamente em sua caminhonete e, ao ser abordado, jogou o veículo violentamente contra uma viatura da Polícia Civil, iniciando uma perseguição pelas ruas da cidade.

Mesmo após ter os pneus alvejados por disparos, o réu continuou em fuga, dirigindo em alta velocidade, furando cruzamentos, e por pouco não atropelou um ciclista na Praça do Raul. Ele teria jogado o veículo contra a viatura policial duas vezes.

Com pneus estourados, colidiu com carros estacionados, subiu em calçadas e danificou veículos em movimento. A perseguição só terminou próximo ao cruzamento da Avenida Conceição Queiroz Marinho, onde foi cercado e imobilizado por policiais civis e militares.

Versões contraditórias do acusado durante abordagem

Durante a prisão, o acusado apresentou versões contraditórias. Primeiro, afirmou que achou que estava sendo perseguido por parentes da vítima, depois alegou que pensou se tratar de um assalto. Ambas as versões foram consideradas inverossímeis pelo delegado Dr. Guilherme Banterli Moreira, que destacou que os policiais estavam uniformizados e identificados.

“A identificação era clara. Foi uma fuga deliberada, com risco à vida de terceiros e às forças de segurança. Não se trata de um mal-entendido”, disse o delegado. O homem foi autuado em flagrante por resistência, desobediência, direção perigosa, dano ao patrimônio público, desacato e poderá responder por tentativa de homicídio contra os policiais envolvidos.

Durante a abordagem, o investigador Rodrigo Silva ficou ferido ao imobilizar o acusado e precisou de atendimento médico. O veículo usado na fuga foi apreendido para perícia, assim como a viatura da Polícia Civil, que foi danificada e teve de ser guinchada.

Defesa sustenta inocência e fala em julgamento acelerado por prescrição

O advogado Dr. Dalton Braga, que assumiu a defesa recentemente, sustentou que seu cliente não participou do homicídio, e que o crime teria sido praticado por terceiros — no caso, um irmão do acusado e uma menor de idade que teria atraído Thaís até o local onde ela foi assassinada.

Ele afirmou ainda que a confissão feita na época foi forçada e que o processo está sendo conduzido de forma atropelada, com quebra de prazos e garantias legais. Dalton disse que teve acesso ao processo principal apenas na terça-feira (05) e que não teve tempo hábil para se preparar. Também questionou a veracidade da suposta tentativa de fuga, alegando que o mandado de prisão foi expedido sem justificativa válida, já que seu cliente teria sido intimado para a nova data do Júri, no dia 31 de julho.

“O processo corre em segredo de justiça. Só tivemos acesso nesta semana. Estão querendo acelerar o julgamento por conta da possível prescrição, mas estão extrapolando os limites da legalidade. Meu cliente é inocente. A verdade será provada”, declarou o advogado, que promete contestar judicialmente a decretação da prisão preventiva.

Relembre o crime: assassinato brutal de adolescente grávida chocou a cidade

O crime ocorreu em 2010. Thaís Vitar, com apenas 16 anos e grávida de seis meses, desapareceu e, dias depois, teve o corpo encontrado em avançado estado de decomposição as margens de um ribeirão, entre Três Pontas e Varginha. O crime gerou comoção na cidade e mobilizou moradores e autoridades.

O acusado chegou a confessar o homicídio – ficou seis meses preso, mas foi solto respondendo o processo em liberdade – mas depois passou a alegar inocência, afirmando que teria sido coagido. A versão foi considerada inverossímil pela acusação, que aponta que ele teria contado com a ajuda de outras duas pessoas para executar o crime, motivado por não aceitar a gravidez da jovem.

O próximo julgamento está marcado para o dia 28 de agosto. Até lá, o acusado segue detido no Presídio de Três Pontas, à disposição da Justiça. A população da cidade e, sobretudo, a família de Thaís, aguardam, com esperança e dor, por uma resposta definitiva — 15 anos depois.

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