O julgamento do produtor rural acusado de matar, em 2010, a adolescente Taís Alves Carolino, de 16 anos, segue em andamento nesta quinta-feira (28), no Fórum Dr. Carvalho de Mendonça, em Três Pontas. O caso, que completa 15 anos, voltou a mobilizar a comunidade local e já ocupa o Tribunal o desde as primeiras horas do dia, após quatro adiamentos ao longo dos últimos anos.

Durante a manhã, três testemunhas foram ouvidas, trazendo versões que relembraram pontos já conhecidos do processo, mas também acrescentando contradições e detalhes sobre os bastidores da investigação.

Ex-namorada do acusado

A primeira testemunha a ser ouvida no julgamento foi a ex-namorada do réu. Logo no início, ela declarou não se lembrar de quase nada do que havia dito à época dos fatos. Diante disso, foi necessário que o depoimento prestado em março de 2010 fosse lido em plenário, para que pudesse confirmar seu conteúdo. Questionada, a jovem afirmou que, “se estava escrito, estava certo”.

Indagada pelo promotor, que não tinha conhecimento do caso do réu com a vítima que estava grávida e disse não se recordar se havia sido torturada ou coagida para prestar o depoimento. Perguntada, revelou também que chegou a visitar o réu na cadeia depois do crime, manteve o relacionamento por algum tempo e, segundo suas próprias palavras, continuou ao lado dele durante o período em que esteve na cadeia. Somente após a saída dele da prisão começou a ter dúvidas, o namoro terminou, mas ela relatou que continuaram se encontrando e chegaram a ficar juntos por mais de um ano, mesmo já sabendo da acusação de que ele teria matado Taís.

A testemunha também descreveu que a convivência com ele e com a família era boa. Perguntada se tinha conhecimento da confissão feita pelo réu à polícia, respondeu que sim, mas acrescentou que depois soube de informações de que ele teria sido pressionado a admitir o crime. Ao ser questionada pelo advogado de acusação sobre o que seriam os “fatos vindo à tona”, explicou que, em um determinado dia, ligou para a casa do acusado e a mãe dele informou que ele estava com o delegado.

Durante a audiência, foi novamente apresentado o depoimento que ela havia prestado no Fórum em 2010. A defesa, então, passou a questioná-la. A testemunha disse que não tinha conhecimento sobre a adolescente apontada como envolvida no crime antes da prisão do réu, e que só soube de sua existência posteriormente. Também afirmou não se lembrar de nada de incomum no comportamento dele na sexta-feira em que o crime teria ocorrido — não o viu suado, sujo ou confuso. Por fim, declarou não se recordar se, na época em que foi ouvida na delegacia, o delegado lia em voz alta o que estava escrevendo em seu relatório.

Amiga adolescente

Cartazes hoje em frente ao fórum

Na sequência, foi ouvida a amiga de Taís, que na época do crime tinha apenas 13 anos. Hoje, com outra versão, ela nega o depoimento prestado em 2010, quando chegou a assumir participação no assassinato.

De acordo com a testemunha, naquela fase era “muito inocente” e acabou sendo envolvida pela investigação. Disse que confessou sozinha e que teria sido forçada a dar aquele depoimento, alegando que apenas confirmava o que os policiais lhe diziam dentro da delegacia. Explicou que não resistiu porque era menor de idade e não compreendia totalmente a gravidade da situação.

Ela declarou ainda que, no dia do crime, teria recebido mensagens para atrair Thaís a um encontro que culminaria no assassinato, mas hoje nega essa versão e afirma que o delegado a obrigou a acusar. Garantiu que não havia mais ninguém na sala com ela além do delegado durante o depoimento.

A adolescente também contou que foi levada ao local do crime, mas que não mostrou nada de forma espontânea: segundo ela, foram os próprios policiais que apontaram o espaço. Disse não se lembrar de detalhes dessa visita, apenas que desceu do carro e foi orientada a apontar o lugar. Afirmou não recordar se foram feitas fotografias no momento.

Na época, chegou a declarar que teria usado um espeto de churrasco no crime, mas agora nega completamente essa participação. Questionada em plenário, respondeu que não tinha ciúmes da vítima e que as duas conviveram por pouco tempo.

Além disso, relatou que fazia uso de crack, maconha e cocaína aos 13 anos, mas negou ter sido procurada pela família do acusado ou por qualquer outra pessoa ligada a ele.

Por fim, chamou a atenção o fato de a própria testemunha reconhecer que inventou uma história para uma amiga, versão que acabou chegando até a polícia e resultando em seu envolvimento direto no inquérito. Essa contradição foi destacada durante a sessão.

Assistente social do CREA nega coação 

Também foi ouvida a assistente social do CREA que acompanhava adolescentes em situação de vulnerabilidade na época. Ela esteve presente em depoimentos e na reconstituição do crime.

Segundo seu relato, não houve coação, pressão ou manipulação policial. Afirmou que todos foram tratados com respeito, que os direitos dos menores foram resguardados e que o papel dela era justamente garantir esses cuidados.

Disse ainda que se recorda da frieza da adolescente e dos envolvidos, em contraste com o acusado, que chorava muito, demonstrando arrependimento. Reforçou que foram os próprios acusados que apontaram o local exato do crime, com detalhes que não poderiam ser conhecidos pela polícia sem a participação deles.

A assistente social também acompanhou a internação da adolescente e relatou que foi após uma visita recebida na clínica que ela mudou a versão inicial de seu depoimento, sugerindo que pode ter havido influência externa.

Julgamento em andamento

Com depoimentos marcados por lembranças conflitantes e diferentes percepções sobre os fatos, o júri popular do caso Taís Alves Carolino segue movimentando o Fórum de Três Pontas.

A sessão continua durante a tarde e deve se estender até a noite, com novos desdobramentos e expectativa em torno do julgamento de um dos casos mais emblemáticos da cidade.

Relembre o crime

O crime aconteceu em 2010. Taís Alves Carolino, de 16 anos e grávida de seis meses, desapareceu e, dias depois, teve o corpo encontrado em avançado estado de decomposição às margens do Ribeirão da Espera, entre Três Pontas e Varginha. O caso gerou forte comoção e mobilizou moradores e autoridades.

O acusado chegou a confessar o homicídio e ficou preso por seis meses, mas depois passou a alegar inocência, afirmando que teria sido coagido. A acusação, no entanto, sustenta que ele contou com a participação do irmão, menor de idade na época, e de uma amiga adolescente de Taís, usada para atraí-la ao encontro que terminou em morte.

De acordo com a denúncia, o crime teria sido motivado pelo fato de o réu não aceitar a gravidez da jovem.

Quinze anos depois, familiares e amigos aguardam, com esperança e dor, uma resposta definitiva da Justiça.

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