
Messias Moreira, líder do grupo e principal executor, foi condenado a pena máxima, de 30 anos de prisão
A Justiça condenou, na madrugada desta sexta-feira (06), todos os quatro réus acusados pela morte de Gustavo Henrique Silva, de 26 anos, brutalmente assassinado em 31 de maio de 2021, em Três Pontas. O julgamento, marcado inicialmente para três dias, que começou na quarta-feira (4), foi concluído em dois e terminou por volta de 1h da madrugada, com a leitura da sentença no Salão do Tribunal do Júri, sob o olhar atento de familiares da vítima e dos acusados, que acompanharam intensamente cada momento do processo.

O júri, composto por quatro mulheres e três homens, considerou todos os réus culpados por homicídio qualificado. Messias Moreira Teófilo, apontado como o líder do grupo, recebeu a pena máxima: 30 anos de prisão em regime fechado. Talles Júlio Mendonça foi condenado a 24 anos e Gabriel Pereira Elias a 21 anos e 4 meses, também em regime fechado. Os jurados reconheceram, para Messias e Gabriel, todas as qualificadoras: motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. No caso de Talles, foram acatadas as qualificadoras de meio cruel e recurso que dificultou a defesa.
Fernanda Pedro, considerada com participação de menor importância no crime, foi condenada a 8 anos. Como já cumpriu dois anos em regime fechado, ela cumprirá o restante da pena – 6 anos – em regime semi aberto.
A sessão do Tribunal do Júri foi uma das mais longas e tensas dos últimos anos em Três Pontas. O salão permaneceu cheio durante os dois dias de julgamento. Os ânimos estiveram exaltados em diversos momentos, e o juiz criminal, Dr. Bruno Mendes Gonçalves Ville, precisou intervir para manter a ordem. Ele ressaltou, ao final, que apesar da tensão, os trabalhos transcorreram dentro da normalidade. Os debates foram encerrados às 23h05.
Durante a leitura da sentença, o juiz mencionou que Messias chegou a causar problemas no presídio de Três Pontas, gerando desordem no pavilhão, o que levou à sua transferência para a Penitenciária de Três Corações.
A defesa de Messias tentou, sem sucesso, desqualificar a acusação de homicídio qualificado, sugerindo que ele deveria responder por lesão corporal seguida de morte. Argumentaram ainda que Messias teria acionado o SAMU e aguardado a chegada da ambulância no local do crime — o que, segundo os advogados, não condiz com a conduta de quem pretende matar. No dia do crime, ele teria sido conduzido ao Quartel da Polícia Militar, onde foi ouvido e liberado. Em seu depoimento, Messias não se intimidou diante do Juri, falando que foi roubado pela vítima perdendo todo o investimento que havia feito, se referindo as roupas que segundo consta, teriam sido furtadas por Gustavinho.
O promotor de Justiça, Dr. Artur Forster Giovannini, rebateu com firmeza a tese da defesa e se opôs quando o advogado de Messias, Dr. Fábio Gama, questionou o papel do réu como chefe do grupo criminoso. Houve um momento de tensão entre os dois profissionais, e o juiz precisou intervir suspendendo a sessão para restabelecer a ordem. Neste momento, foi feito o intervalo para o jantar.
Ao final da leitura da sentença, familiares da vítima comemoraram a condenação dos réus, encerrando um julgamento que ficará marcado na memória da cidade pela gravidade do crime e pela complexidade dos debates jurídicos envolvidos. Ao deixar o salão, ele sorriu como se nada tivesse acontecido.
Familiares de Gustavinho comemoraram a condenação dos acusados e se sentiram aliviados com o desfecho do julgamento. Eles agradeceram ao advogado assistente de acusação, Dr. Dalton Braga, e aos promotores Dr. Vilmo Barreto Teixeira Júnior e Artur Forster. Dr. Vilmo, que atuou diretamente no caso, afirmou que sai satisfeito com o resultado, por ter entregado à família e à sociedade uma resposta ao crime cometido.
A mãe de Gustavinho, dona Cidineia Pires, conversou com a Equipe Positiva ao final do júri, visivelmente emocionada e aliviada ao ver a condenação daqueles que tiraram a vida de seu filho. “Eu pedi a Deus que a justiça fosse feita. Esperei quatro anos e dois dias por isso. Estou feliz com a justiça”, declarou.
Ela relatou os momentos difíceis vividos durante os dois dias de julgamento, especialmente ao ouvir falas que a fizeram sofrer ainda mais. “Debocharam de mim. Um advogado chegou a dizer que eu — que perdi meu filho da forma que perdi — estava fazendo teatro. Isso eu não desejo a ninguém”, desabafou.
Investigação
A investigação do assassinato de Gustavinho foi resultado de um trabalho minucioso da Polícia Civil, conduzido pelos investigadores João Paulo Souza e Rodrigo Alexandre Silva. Coube a Rodrigo a elaboração do relatório final entregue à Justiça, além de prestar um dos depoimentos mais importantes no primeiro dia de júri, quando detalhou, por quase duas horas, a atuação de cada envolvido e as provas reunidas durante o inquérito.
Segundo a investigação, o crime foi motivado por um suposto furto de roupas que teria sido cometido por Gustavinho na casa de Messias Moreira Teófilo, considerado o líder do grupo criminoso. Embora o furto nunca tenha sido comprovado, a motivação e a autoria do homicídio foram devidamente esclarecidas. Os investigadores apuraram que, na véspera do crime, o líder e sua namorada, Fernanda, foram até a casa da vítima para ameaçá-lo, afirmando que se vingariam.
Na noite de domingo, Gustavinho foi abordado no início da Rua Dr. Carvalho de Mendonça, no bairro Padre Victor. A partir das 23h40, foi brutalmente espancado pelos três – na companhia de Fernanda – agressões que se estenderam até cerca de 2h30 da madrugada. Mesmo implorando por sua vida, ele foi arrastado, colocado na carroceria de uma caminhonete e levado até um cômodo comercial em frente à Rodoviária, onde as agressões continuaram. O caso ganhou ainda mais crueldade com a revelação de que os agressores chegaram a fotografar as cenas da tortura.
Gustavinho foi socorrido pelo SAMU em estado gravíssimo, diagnosticado inicialmente com morte cerebral e acabou falecendo dois dias depois.
Durante o julgamento, o investigador Rodrigo também revelou que Messias tentou convencer a Polícia Militar a não registrar a ocorrência, alegando que a vítima era um “ladrão conhecido” com várias passagens, e que por isso não valeria a pena abrir um boletim de ocorrência.
A investigação conseguiu comprovar a participação direta dos três denunciados. Gabriel chegou a confessar informalmente o crime no momento da prisão, dizendo que bateu tanto em Gustavinho que ficou com as mãos doloridas. Ele também teria concedido uma entrevista à Equipe Positiva na porta do Pronto Atendimento Municipal (PAM), assumindo o crime — material que foi exibido durante o júri.
A prisão dos assassinos
Três dos envolvidos — dois homens (na época com 23 e 32 anos) e a mulher (25 anos) — foram presos quase três meses após o crime. Eles estavam escondidos em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo, e se apresentaram na Delegacia de Três Pontas acompanhados por advogados.
Já o Messias foi preso apenas em dezembro de 2022, em Bertioga, no litoral paulista. Considerado de alta periculosidade, ele estava foragido desde o crime. A Polícia Civil de Três Pontas, com apoio do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (D.O.P.E) e do GARRA de São Paulo, realizou uma ampla operação com cumprimento de 10 mandados de busca e apreensão até localizá-lo. O briefing (reunião de policiais para traçar estratégias da forma de atuação que serão utilizadas em uma operação) ocorreu à 1h da manhã, na sede do GARRA, na Barra Funda (SP). De lá, 16 viaturas da Polícia de São Paulo e duas viaturas da Polícia Civil de Três Pontas partiram rumo ao litoral com o objetivo de capturar o alvo. O forte aparato policial foi mobilizado devido à escalada de violência envolvendo facções criminosas no litoral norte de São Paulo, especialmente em Bertioga, Santos e Guarujá.”
Segundo o delegado Dr. Gustavo Gomes, Messias foi encontrado em um quarto alugado em um sobrado. No local, foram apreendidas drogas (maconha e cocaína) e dinheiro, o que resultou também em sua prisão em flagrante por tráfico.
