

*Estado apresenta projeto de modernização das balsas e descarta construção de ponte em Três Pontas por baixo fluxo
O transporte aquaviário no Lago de Furnas foi tema de uma audiência pública realizada nesta quarta-feira (15), no Centro Cultural Milton Nascimento, em Três Pontas. O debate, promovido pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) e da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), contou com a presença de autoridades estaduais, representantes municipais e lideranças dos distritos que margeiam o lago, como Elói Mendes, Paraguaçu e o Distrito do Pontalete.
O vice-prefeito de Três Pontas, Maycon Douglas Vitor Machado, abriu o encontro dando as boas-vindas e destacou a importância do Lago de Furnas e os investimentos que o Município vem realizando, especialmente a pavimentação asfáltica que liga o perímetro urbano ao Distrito do Pontalete. Segundo ele, essa obra é essencial para impulsionar o turismo, facilitar o escoamento da produção agrícola e melhorar a qualidade de vida dos moradores que dependem de boas condições de acesso à cidade.
“A proposta garante que os valores cobrados dos usuários serão iguais ou menores do que os praticados atualmente”, afirma superintendente da Seinfra
O superintendente de Modelagem Técnica da Subsecretaria de Concessões e Parcerias da Seinfra, Lucas Abreu Carvalho Pereira, explicou que o objetivo da audiência é apresentar melhorias para o transporte aquaviário nas travessias intermunicipais, com foco em mais mobilidade, segurança e conforto para a população. “Estamos falando da renovação das balsas dessas travessias e acreditamos que, com isso, traremos mais mobilidade, mais segurança e mais conforto para a população — facilitando o acesso aos serviços de saúde, educação e também ampliando as oportunidades de desenvolvimento da região, tanto no potencial agrícola quanto turístico, que sabemos que esta área tem a oferecer”, disse.
Lucas explicou ainda que, quanto à possibilidade de construção de pontes, o Estado entende que a única travessia com volume de veículos que justificaria uma ponte seria a de Delfinópolis para Cássia, que possui fluxo intenso e demanda técnica comprovada. “No caso de Três Pontas, esse volume ainda não seria suficiente para justificar o investimento em uma ponte, e o Estado não possui recursos disponíveis para isso no momento. Por isso, o foco aqui será realmente a renovação total das balsas, o que já vai representar uma melhoria significativa na mobilidade regional.”
Ele ressaltou também que essa iniciativa beneficia não apenas a produção agrícola — já que o Sul de Minas é a maior região produtora de café do Brasil — mas também o turismo, especialmente com o asfaltamento do trecho entre o perímetro urbano de Três Pontas e o Distrito do Pontalete, o que impulsiona o potencial turístico e econômico do município.
O projeto faz parte de uma Parceria Público-Privada (PPP), na modalidade de concessão patrocinada, que prevê investimento inicial de R$ 20 milhões nos primeiros anos, destinados à renovação das balsas e à obtenção das licenças ambientais. Ao longo dos 30 anos de contrato, serão investidos cerca de R$ 260 milhões na operação das travessias, tanto no Lago de Furnas quanto em Mascarenhas de Moraes. A proposta garante que os valores cobrados dos usuários serão iguais ou menores do que os praticados atualmente, já que a maior parte dos recursos virá do Estado.
A concessão prevê modernização e operação profissional das balsas, com sete travessias no total: Pontal/Penas (São José da Barra e Guapé), Fernandes (Guapé e Cristais), Águas Verdes (Carmo do Rio Claro e Campo do Meio), Fama (Fama e Campos Gerais), Pontalete (Paraguaçu, Elói Mendes e Três Pontas), Mendes (Campo Belo e Nepomuceno) e Itaci (Carmo do Rio Claro e Itaci). As balsas contarão com horários fixos, maior frequência, equipamentos de segurança, pagamento físico e digital, e têm previsão de entrega até 2027, com início da operação até 2028.
Atualmente, a operação enfrenta diversos desafios. As embarcações têm dificuldades operacionais e pouco controle de segurança, faltam profissionais qualificados conforme exigências da Marinha, não há infraestrutura adequada para os operadores — como equipamentos de segurança do trabalho — e as condições de trabalho são consideradas inadequadas. Além disso, longas filas se formam em períodos de alta temporada.
A audiência também discutiu os benefícios esperados com o novo modelo, entre eles a integração regional, mais facilidade no escoamento da produção agrícola e fortalecimento do turismo, principalmente em localidades antes consideradas isoladas.
O deputado federal Emidinho Madeira (PL) (foto) participou do encontro e demonstrou preocupação com o futuro do transporte aquaviário. “Eu vejo essa audiência e esse debate como algo de grande relevância. Precisamos aprofundar mais nesses termos que os prefeitos já assinaram — mas é importante lembrar que o que existe até o momento é apenas um termo, não o contrato em si. Confesso que estou muito preocupado com essa situação, porque Furnas arrecadou uma vida inteira, mais de 60 anos, e arrecadou muito aqui na nossa região. Acho que, lá no início, quando Furnas ocupou as nossas terras produtivas, houve uma promessa de um grande desenvolvimento regional — o que, infelizmente, não aconteceu”, afirmou.
O deputado destacou ainda que agora, com a Eletrobras transferindo a responsabilidade ao Estado, é preciso cautela. “Quando surgirem dificuldades, se o governo entrar e sair sem honrar os compromissos, vai acabar sobrando para os municípios. E eu acredito que os municípios que têm as travessias vão ser os mais prejudicados. Penso que deveríamos unificar esse debate, sentar todos os prefeitos juntos e só assinar o contrato depois de uma discussão bem profunda. Parceria é boa quando é boa para os dois lados — mas parceria depende de orçamento. A Eletrobras tem orçamento, Furnas tem orçamento, mas às vezes o Estado não tem como manter isso lá na frente. Por isso, confesso que fico preocupado com o futuro dessa questão”, completou.
Atualmente, o serviço de balsa é custeado pela Eletrobras, que mantém as embarcações, enquanto a operação é feita pelos municípios e a tarifa é paga pelos usuários. Com a concessão, o novo modelo trará segurança financeira aos municípios, que deixarão de gastar entre R$ 600 mil e R$ 1,5 milhão por ano no custeio das balsas, além de garantir investimentos em outras áreas e uma solução definitiva para um problema histórico do Lago de Furnas — especialmente para o Distrito do Pontalete, que depende do transporte aquaviário para manter sua ligação econômica e social com o restante da região.
A audiência em Três Pontas foi a terceira realizada pelo Governo de Minas, após os encontros em São José da Barra e Campo do Meio. A intenção é colher contribuições da população e de lideranças locais antes da publicação do edital que definirá o parceiro privado responsável pela operação das travessias pelos próximos 30 anos. Nesta quinta-feira (16), a audiência acontece em Campo Belo e, na sexta (17), será virtual, transmitida pelo canal da Seinfra no YouTube.
