Mapa aponta onde possíveis focos do mosquito está em 5 bairros, onde o drone da saúde passou. Imagem: Divulgação

 

Nova epidemia de Dengue vai depender de ações preventivas dos moradores. Basta deixar casas e quintais limpos sem criatórios do Aedes aegypti

Com a chegada do período de chuvas, o controle do Aedes aegypti – mosquito transmissor de doenças como Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela – exige ações rápidas e coordenadas para prevenir o aumento de casos. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio da Vigilância Ambiental, está implementando uma série de iniciativas inovadoras para o controle do mosquito e conscientização da população, destacando-se, entre elas, o projeto “Voo pela Saúde”, que utiliza drones para mapear focos de Dengue em áreas de difícil acesso.

Cenário atual e período chuvoso

A bióloga da Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde, Sebastiana Aparecida da Silva, detalha os desafios trazidos pelas mudanças climáticas. “Com o início do período de chuvas, os ovos do Aedes aegypti , que podem permanecer viáveis ​​até um ano em locais secos, ambos em contato com a água eclodem, o que aumenta o risco de proteção do mosquito. Por isso, esse é um momento crucial para intensificarmos as ações de controle e, principalmente, fortalecermos a necessidade de que a população faça a sua parte”, explica.

Ela ressalta que, além das campanhas de conscientização, a atuação da Vigilância Ambiental se dá em várias frentes ao longo do ano. “Nós não aguardamos os surtos para agir. Realizamos o Levantamento Rápido de Índices para o Aedes aegypti (LIRAa) de forma contínua, a cada três meses, (janeiro, abril, agosto e novembro) para mapear os índices de infestação no município e direcionar nossas atividades para as áreas mais críticas”, comenta Sebastiana Aparecida. Entre os dias 04 e 08 de novembro, os agentes farão o levantamento e ficaremos sabendo qual a situação.

A SMS tem o Programa de Vigilância de Arboviroses que atua com vários eixos de atuação. Um deles é o controle vetorial e a pesquisa entomológica, com várias ações. No controle vetal é feito seis ciclos bimestrais de tratamento focal, cada bimestre. São as visitas domiciliares realizadas pelos agentes em todo o perimetro urbano. Nela os agentes orientam os moradores a removem os criadouros e manter o quintal limpo, para evitar a proliferação do mosquito.

Outra frente é quando há notificação de casos suspeitos de Dengue. É feito o UBV leve, chamado de fumacê, com a bomba costal, feito somente em caso suspeito notificado pela Secretaria de Saúde de Dengue. Já o bloqueio de transmissão veicular, chamado de UBV pesado, é um veículo que tem acoplado uma bomba que faz a dispersão pelas ruas da cidade. Porém, ele só é feito quando se constata um surto ou epidemia de Dengue.

A iniciativa dentro do programa é a visita quinzenalmente em pontos estratégicos, que são locais que podem ter alto índice de locais que podem ter foco, como borracharias, pátios do Detran-MG e ferros velhos, que podem ter um número grande de criatórios, por isso a visita nestes locais é a cada 15 dias.

Em relação as residências, quando há algum depósito, que não pode ser removido é tratado com larbicida. Por exemplo uma caixa d’água destampada, um tambor no quintal que está sendo usado e não pode ser descartado, o agente usa o larbicida.

A Secretaria de Saúde mantém dois mutirões de limpeza por ano. O deste segundo semestre vai terminar agora em novembro, atendendo todos os bairros e casas da cidade.  Além do mutirão de limpeza, a SMS conseguiu limpar 30 imóveis residenciais, de idosos, pessoas carentes e idosos que não conseguem fazer retirar da sujeira que vai se acumulando. O agente junto com a equipe do mutirão atua com autorização dos moradores. A maioria dos pedidos são deles próprios.

Projeto inovador: Voo pela Saúde

Uma das novidades trazidas pela Secretaria de Saúde é o projeto “Voo por Saúde”, que está na segunda fase o projeto, que conta com o uso de drones para identificar criadores de mosquitos em áreas de difícil acesso, como telhados, calhas e terrenos baldios. É uma parceria Superintendência Regional de Saúde de Varginha, com o Consórcio Circuito das Águas, a empresa GRS80 de Belo Horizonte e o município de Três Pontas. Sebastiana Aparecida explica que a tecnologia adotada vem se mostrando uma aliada importante no combate ao Aedes aegypti. “O drone nos permite alcançar locais que, muitas vezes, passariam despercebidos durante as visitas domiciliares dos agentes de endemias. Com as imagens captadas, conseguimos identificar focos de água parados e direcionar as equipes para eliminar os criados”, afirma.

O “Voo por Saúde” já está sendo utilizado em bairros com altos índices de infestação e, segundo a bióloga, tem se mostrado uma ferramenta eficaz na identificação de criadouros e no controle do mosquito. “É uma tecnologia que nos dá um ganho de tempo e eficiência. Conseguimos cobrir áreas maiores em menos tempo, com precisão e faz a intervenção. Utilizamos da tecnologia, mas o recurso humano é o principal”, diz Sebastiana.

A equipe veio, fez o sobrevoo nos bairros Santa Margarida, Santa Edwirges, Santa Inês,  Meia Pataca e Padre Vitor. Nesta quarta-feira (23), a equipe da a empresa GRS80 entregou o mapeamento, que mostra dentro destes bairros todos os pontos onde possivelmente tem prováveis criatórios do mosquito. Com o mapa em mãos, os agentes de endemias voltam nestes locais para falar com os moradores e fazer o trabalho de remoção destes criatórios ou tratamento com larvicida. Foram 134 pontos identificados nestes 5 bairros e a equipe vai visitar todos eles.

A coordenadora da Vigilância Epidemiológica Lara Miranda Silva e a bióloga da Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde Sebastiana Aparecida da Silva

Medidas preventivas e conscientização

Além do projeto com drones, a Vigilância Ambiental mantém visitas regulares às residências, com ações de tratamento focal, aplicação de larvicidas e fumacê em áreas com casos confirmados. “O fumacê mata apenas os mosquitos adultos, por isso a eliminação dos criadouros é essencial para o controle da Dengue. As visitas dos agentes de endemias são fundamentais para orientar os moradores e garantir que potenciais focos de água sejam eliminados”, explica Sebastiana Aparecida.

A bióloga também destaca a importância do papel da população nesse processo. “Nós fazemos a nossa parte, mas sem a colaboração dos moradores, as ações acabam sendo limitadas. Cada pessoa precisa fazer sua inspeção semanal para garantir que não haja água acumulada em seu quintal e dentro de casa”, reforça.

Risco de nova epidemia de Dengue com sorotipos diferentes 

Outro fator de preocupação é a possível introdução de novos sorotipos do vírus da Dengue na região. A coordenadora da Vigilância Epidemiológica Lara Miranda Silva, explica que existem quatro sorotipos do vírus da dengue (1, 2, 3 e 4) e que a infecção por um deles não garante imunidade contra os outros. “Atualmente, detectamos, por meio de exames PCR, que o sorotipo predominante na nossa região é o tipo 1, que causou a epidemia deste ano. No entanto, em 2017, tivemos predominância do tipo 2”, explica.

Lara alerta que, em Minas Gerais, já foram identificados casos dos tipos 3 e 4 em algumas cidades. “O sorotipo 3 foi detectado em um município próximo ao nosso, e o tipo 4 já apareceu na região de Belo Horizonte. Como a maioria da população local não tem imunidade a esses dois sorotipos, a entrada de um deles pode gerar uma nova epidemia”, afirma.

Ela explica que, ao contrair a Dengue por um tipo de vírus, a pessoa fica imune apenas a esse sorotipo, permanecendo vulnerável aos outros. “Se um novo sorotipo se disseminar em nossa área, a população ficará exposta, e as chances de uma nova onda de casos são altas”, completa Lara.

Educação e mobilização social

Além das ações de campo, a Secretaria de Saúde tem investido em treinamentos e capacitação de sua equipe e em campanhas educativas. “Estamos realizando visitas a escolas, promovendo palestras em comunidades e utilizando as redes sociais e a imprensa para conscientizar as pessoas sobre a importância de eliminar os criadouros e reconhecer os sintomas da Dengue”, explica Sebastiana. Outra recomendação é quanto a limpeza de terrenos baldios e a dispensação de lixo. Os terrenos precisam ficar limpos e o lixo doméstico precisa ser colocado de forma a não ficar acessível a cães que espalham a sujeira.

A conscientização, segundo a bióloga, é uma das principais ferramentas de combate à doença. “Quando a população entende seu papel no controle do mosquito e se envolve, consegue reduzir significativamente o risco de uma epidemia”, diz Sebastiana Aparecida.

Desafios e perspectivas futuras

O combate ao Aedes aegypti é uma batalha constante, e a Secretaria de Saúde reconhece os desafios. “O mosquito não desaparece com o fim das chuvas, ele apenas se adapta. Por isso, nossas ações são permanentes, e a população precisa estar sempre vigilante”, afirma Sebastiana.

Com o uso de novas tecnologias como drones, a continuidade das visitas domiciliares e o esforço conjunto entre governo e comunidade, a Secretaria de Saúde espera manter o controle sobre a rotina do mosquito e reduzir o impacto das doenças transmitidas por ele. No entanto, com a possível introdução de novos sorotipos da Dengue, a vigilância precisa ser constante.

“Estamos preparados para enfrentar o que vem, mas contamos com o apoio de todos. Se cada um fizer a sua parte, conseguiremos evitar surtos maiores e proteger a saúde da nossa população”, finaliza Sebastiana.

Casos de Dengue

Os casos confirmados de Dengue em 2024 vem caindo gradativamente, mas os números, somente dos notificados chegou a quase 10 mil. De acordo com dados atualizados da Secretaria de Saúde, foram 9.863 casos notificados, sendo 9.204 confirmados. Ao todo 631 foram descartados e 28 continuam em investigação até a divulgação destes dados. São 3 óbitos confirmados até agora em 2024.

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