

Teve início nesta quarta-feira (04), no Fórum Dr. Carvalho de Mendonça, em Três Pontas (MG), o julgamento dos quatro acusados pela morte de Gustavo Henrique Silva, o “Gustavinho”, de 26 anos. O júri popular atraiu grande atenção e lotou as dependências do salão, reunindo familiares da vítima e dos réus, muitos dos quais vestiam camisetas com a imagem de Gustavinho e colocaram um banner em sua homenagem nas grades do fórum.
O crime, ocorrido no fim de maio de 2021, chocou a população da região pelos requintes de crueldade. Inicialmente agendado para março deste ano, o julgamento foi adiado por questões técnicas processuais. Foi remarcado com a expectativa de se estender por três dias, mas a previsão agora de término, é para esta quinta-feira à noite.
A investigação
A elucidação do crime é fruto de um trabalho meticuloso da Polícia Civil, conduzido pelos investigadores João Paulo Souza e Rodrigo Alexandre Silva. Foi este último o responsável pelo relatório final entregue à Justiça e também quem prestou depoimento mais extenso no primeiro dia do júri. Em cerca de duas horas, Rodrigo detalhou a atuação de cada envolvido, demonstrando a solidez das provas reunidas.
Segundo o inquérito, o crime foi motivado por um suposto furto de roupas cometido por Gustavinho na casa do principal acusado, líder do grupo. Apesar de não haver comprovação definitiva sobre o furto, a motivação e a autoria do assassinato foram esclarecidas com precisão. Ainda de acordo com os investigadores, o líder foi com sua namorada, até a casa da vítima um dia antes do crime para ameaçá-lo, dizendo que se vingaria. No domingo, ele foi abordado no início da Rua Dr. Carvalho de Mendonça, no bairro Padre Victor. Ele foi espancado das 23h40 até por volta de 2h30.
Durante a brutal execução, Gustavinho foi espancado por três homens na Rua Dr. Carvalho de Mendonça. Mesmo implorando por sua vida, foi arrastado, colocado em uma caminhonete e levado até um cômodo comercial, em frente a Rodoviária onde a tortura continuou — chegando ao ponto de os agressores fotografarem a cena. Ele foi resgatado pelo SAMU em estado gravíssimo, teve o diagnóstico inicial de morte cerebral, vindo a falecer dois dias depois.
Rodrigo relatou ainda que, quando a Polícia Militar chegou ao local para registrar a ocorrência, o principal autor tentou dissuadir os policiais, alegando que a vítima era “um ladrão conhecido”, com dezenas de passagens por furto. O acusado inclusive teria dito aos militares que não valeria a pena registrar o crime.
A investigação comprovou a participação ativa dos três denunciados. Um dos acusados chegou a confessar informalmente o crime ao ser preso, afirmando que matou a vítima com socos tão violentos que ficou com as mãos doloridas. Ele teria dado entrevista à Equipe Positiva na porta do Pronto Atendimento Municipal (PAM), revelando os detalhes e assumindo tudo. que foi exibida durante o juri.
Prisões
Três dos envolvidos — dois homens (23 e 32 anos) e a mulher (25 anos) — foram presos quase três meses após o crime. Eles estavam escondidos em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo, e se apresentaram na Delegacia de Três Pontas acompanhados por advogados.
Já o principal executor foi preso apenas em dezembro de 2022, em Bertioga, no litoral paulista. Considerado de alta periculosidade, ele estava foragido desde o crime. A Polícia Civil de Três Pontas, com apoio do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (D.O.P.E) e do GARRA de São Paulo, realizou uma ampla operação com cumprimento de 10 mandados de busca e apreensão até localizá-lo. O briefing (reunião de policiais para traçar estratégias da forma de atuação que serão utilizadas em uma operação) ocorreu à 1h da manhã, na sede do GARRA, na Barra Funda (SP). De lá, 16 viaturas da Polícia de São Paulo e duas viaturas da Polícia Civil de Três Pontas partiram rumo ao litoral com o objetivo de capturar o alvo. O forte aparato policial foi mobilizado devido à escalada de violência envolvendo facções criminosas no litoral norte de São Paulo, especialmente em Bertioga, Santos e Guarujá.”
Segundo o delegado Dr. Gustavo Gomes, ele foi encontrado em um quarto alugado em um sobrado. No local, foram apreendidas drogas (maconha e cocaína) e dinheiro, o que resultou também em sua prisão em flagrante por tráfico.
Atualmente, ele está detido na Penitenciária de Três Corações, à disposição da Justiça. Os outros se encontram a disposição da justiça no Presídio de Três Pontas.
Comoção no júri
Durante o depoimento de Rodrigo Silva, a mãe de Gustavinho, Cidineia Pires se emocionou e precisou ser amparada pelas filhas e retirada do salão. A audiência foi encerrada por volta das 20h40 após os interrogatórios dos réus e foi retomada na manhã desta quinta-feira.
Os quatro acusados respondem por homicídio triplamente qualificado, cujas penas podem variar entre 12 e 30 anos de prisão.