
*Vereador Coelho anuncia que vai se desfiliar do PSD de Diego Andrade e cria grupo político com Robertinho, em apoio a Dimas Fabiano
Após 15 dias de recesso parlamentar, a Câmara Municipal de Três Pontas retomou os trabalhos legislativos na noite desta segunda-feira (4), dando início ao segundo semestre com uma pauta extensa, discussões relevantes e movimentações políticas que chamaram a atenção. Com 12 projetos de lei do Poder Executivo votados e aprovados, os vereadores demonstraram envolvimento tanto nas ações práticas quanto nos debates sobre temas sensíveis, como a situação das pessoas em situação de rua e a reorganização de forças políticas na cidade. No Pequeno Expediente, dominou o debate sobre o mutirão de limpeza “Bota Fora”, enquanto o Grande Expediente foi marcado pelo anúncio de desligamento do vereador Coelho do grupo do deputado federal Diego Andrade e pela repercussão do repasse de verba à Comunidade Fé com Obras, que reacendeu a discussão sobre o crescente número de pessoas vivendo nas ruas, especialmente na Praça Cônego Victor.
Mutirão “Bota Fora” nos bairros
O primeiro a abordar o mutirão de limpeza foi o vereador Matheus Dias Silva (Pneumar – PRD), secretário da Mesa Diretora. Ele destacou a melhoria da sinalização no bairro onde mora, Jardim Primavera, onde a ação começou. O trabalho, que reuniu servidores das secretarias de Transportes e Obras, Meio Ambiente e Saúde, seguiu para o bairro Santana, com recolhimento de materiais inservíveis nas portas das casas. O vereador destacou o esforço das equipes e a importância da conscientização da população quanto à destinação correta dos resíduos.
Daniel Rodrigues (PV) fez coro à valorização do “Bota Fora”, elogiando o engajamento dos vereadores — citando a participação direta de Francisco Fabiano Diniz Júnior (Professor Popó), Valéria Evangelista (PL), Alexandre Corrêa (Enfermeiro – PSB) e Maciel Ramos (Republicanos) — e ressaltou a importância de cada um cumprir seu papel. O vereador lembrou que bastam pequenas ações individuais, como jogar um papel no chão, para transformar locais limpos em pontos de descarte irregular. Sugeriu ainda que seja construído um consenso entre os empresários que alugam caçambas, para que o serviço não fique oneroso para a população que deseja fazer limpeza de quintais e terrenos.
Além disso, Daniel relatou sua mobilização pessoal em levar quase 100 pessoas a Varginha para a realização da prova do ENCCEJA, projeto que realiza desde 2020. Este ano, a iniciativa ganhou força com o apoio da Prefeitura, que disponibilizou transporte gratuito. No entanto, voltou a criticar a dificuldade de comunicação com setores públicos, como postos de saúde e secretarias, que seguem com falhas no atendimento telefônico.
Alexandre Enfermeiro destacou a mobilização dos moradores que retiraram materiais acumulados de seus quintais e os colocaram nas ruas para a coleta. A vereadora Valéria Evangelista relatou que a participação no mutirão agravou sua rinite, mas reforçou que os moradores devem continuar colaborando. Ela informou que o cronograma das próximas ações será divulgado pelas redes sociais da Prefeitura e pediu atenção da população.
Ainda no Pequeno Expediente, a vereadora Valéria falou sobre a viagem a Guapé com os alunos do Parlamento Jovem, onde participaram de um Grupo de Trabalho com estudantes de Lavras e Nepomuceno — cidades que, ao lado de Três Pontas, compõem o Polo Sul III. O próximo encontro será em Lavras e as propostas discutidas seguirão para a etapa regional do projeto, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Outro destaque da sessão foi o reconhecimento à realização de um mutirão de cirurgias de catarata, viabilizado com recursos de emendas impositivas do vereador Roberto Donizetti Cardoso, dos ex-vereadores Sérgio Eugênio e Maycon Machado, atual vice-prefeito. Roberto agradeceu à Santa Casa e reforçou o compromisso de continuar destinando recursos à saúde do município.
Rompimento confirmado: Coelho deixa grupo de Diego Andrade e se alinha a Dimas Fabiano junto com Robertinho
Mas o ponto alto da sessão foi protagonizado pelo vereador Geraldo José Prado, o Coelho (PSD), que, após semanas de especulações, confirmou seu afastamento político do grupo liderado pelo deputado federal Diego Andrade. Em tom respeitoso, Coelho iniciou sua fala elogiando o Executivo, sobretudo pelos cuidados com os distritos do Pontalete e Quilombo Nossa Senhora do Rosário, que receberam melhorias e asfaltamento viabilizado por emenda do próprio Diego Andrade. No entanto, anunciou que deixará o partido quando a janela de transferências se abrir, revelando rompimento com o grupo do qual fez parte nos últimos anos.
Segundo ele, a decisão não decorre de desavenças com o deputado, a quem elogiou por sua atuação em todas as áreas, especialmente na saúde, mas sim por incompatibilidades com pessoas próximas ao parlamentar e com o prefeito Luisinho. Coelho enfatizou que sai “pela porta da frente” e “de cabeça erguida”, ciente de que será alvo de ataques, mas preparado para enfrentá-los. “Três Pontas talvez nunca mais tenha um deputado que fez o que Diego Andrade fez. Mas o relacionamento político com o grupo, infelizmente, não funcionou. Vou continuar trabalhando pela cidade”, afirmou.
No Grande Expediente, o vereador foi ainda mais direto. Confirmou que está se juntando ao grupo do deputado federal Dimas Fabiano (PP/MG), com quem teve uma reunião recente acompanhado do Pastor Luciano, presidente municipal do partido. Coelho afirmou que foi bem recebido e que já há emendas prometidas para Três Pontas. “É uma nova porta que se abre, um novo caminho político com ideias diferentes e disposição para trazer recursos para a nossa cidade”, declarou. A decisão, segundo ele, representa uma mudança necessária. Disse ainda que está feliz pessoal e politicamente, e que continuará defendendo suas convicções.
A crise entre Coelho e o grupo do Executivo não é nova. Ela teve início nas eleições de 2024, quando o vereador publicou em um grupo de WhatsApp que Luisinho e Maycon não desejavam sua reeleição. O relacionamento azedou de vez quando, em um evento oficial de entrega de viatura da PM com presença do deputado Mário Henrique Caixa, Coelho se recusou a cumprimentar o prefeito, gerando críticas por sua postura considerada desrespeitosa.
Em seguida, o vereador Robertinho também declarou apoio ao grupo de Dimas Fabiano. Confirmou que novos recursos estão previstos para o município e que seguirá trabalhando por Três Pontas. Embora tenha ressaltado que Diego Andrade sempre foi cordial, disse que vê no novo grupo uma força política renovada para as próximas eleições. Robertinho afirmou que esteve com o prefeito e que o Executivo está aberto a receber emendas de qualquer deputado que queira ajudar o município.
Saúde receberá grande investimento
Entre os projetos votados, os maiores valores foram destinados à saúde. O Executivo garantiu R$1 milhão para ações de média e alta complexidade no SUS, como cirurgias de ortopedia, urologia e otorrinolaringologia. Outro projeto destina R$500 mil para a realização de exames clínicos com o objetivo de fechar diagnósticos nos postos de saúde. A Prefeitura também vai adquirir uma nova ambulância no valor de R$323.812,00 para fortalecer o transporte de pacientes.
Na área da infraestrutura, foi aprovado o repasse de R$100 mil, oriundos de emenda do deputado estadual Grego da Fundação (PMN), à Comunidade Fé com Obras, que atua na reabilitação de pessoas em situação de rua. O projeto reacendeu o debate sobre a presença constante de moradores de rua na Praça Cônego Victor. Os vereadores relataram episódios graves, como ameaças, constrangimentos e até retaliações a quem se recusa a dar esmolas.
O vereador Antônio do Lázaro (PSD) relatou que moradores que não deram dinheiro foram retaliados: tiveram seus carros sujos com fezes humanas. Robertinho pediu que a praça seja lavada com mais frequência, enquanto Valéria explicou que a limpeza tem sido feita pela Secretaria de Obras, mas não dura devido ao comportamento dos moradores de rua, que defecam em espaços públicos sem qualquer pudor.
O presidente da Câmara, vereador Myller Bueno (PSD), relatou que já pediu ao prefeito Luisinho a convocação de uma força-tarefa envolvendo não apenas a assistência social, mas também o Ministério Público e as forças de segurança para buscar uma solução. Segundo ele, em fevereiro havia mais de 60 pessoas em situação de rua no município, a maioria natural de Três Pontas, mas que se recusa a mudar de vida. Ressaltou que mais de 10 delas já foram acolhidas pela Comunidade Fé com Obras, mas que o número segue crescente.
Os vereadores também criticaram o excesso de doações feitas por moradores, alegando que, ao dar esmolas, as pessoas acabam alimentando vícios. Houve apelo para que não se deem nem alimentos, que muitas vezes são trocados por álcool e drogas. Foi defendida a criação de uma campanha de conscientização em parceria com as igrejas e entidades da cidade.
Na área da educação, o investimento aprovado é de R$300.000,07 para a melhoria da infraestrutura e aquisição de materiais pedagógicos e didáticos para os Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e para a Escola Municipal José Vieira Mendonça. Na infraestrutura viária, foi aprovado um crédito especial de R$120.976,17 para o asfaltamento da estrada Dr. Glimaldo Paiva, entre o Quilombo e o distrito do Pontalete.
No orçamento do SAAE, foram aprovados R$97 mil para a contratação de empresa que irá identificar e reduzir perdas físicas e aparentes no sistema de captação, tratamento e distribuição de água, além de R$135 mil para a aquisição de uma caminhonete nova para atender às necessidades operacionais da autarquia.
No que se refere aos recursos humanos, o Instituto de Previdência Municipal (IPREV) destinou R$16 milhões para garantir a folha de pagamento do núcleo de Benefícios Sociais, assegurando o pagamento de aposentadorias, pensões e demais encargos previdenciários. Na saúde, o valor de R$29.500,00 foi aprovado para pagamento de salários, vantagens fixas, auxílio alimentação e obrigações patronais.
Por fim, foi aprovada a reestruturação do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, que passa a ser formado majoritariamente por representantes da sociedade civil — dois terços da composição — em consonância com as diretrizes do CONSEA estadual e demais conselhos municipais.
