*Instituição conseguiu credenciamento do Ministério da Saúde para o CER II Físico e Intelectual e amplia seus atendimentos
Denis Pereira – A Voz da Notícia
A cidade de Três Pontas recebeu um presente por intermédio da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), que vai beneficiar diretamente toda a população município, bem como à microrregião. Coincidentemente, a notícia chegou através de uma publicação feita no Diário Oficial da União, no dia 03 de julho, data de aniversário do Município; e é resultado de muita luta. É que a instituição foi reconhecida pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, pela excelência dos serviços prestados na área da Saúde, para receber o Centro Especializado de Reabilitação (CER II). O Centro, atua na habilitação/reabilitação de pessoas com deficiência intelectual e física e será referência na microrregião. Ao mesmo tempo que a equipe da Instituição que ficou lisonjeada em receber este reconhecimento, ainda em 2013, também veio a preocupação de tamanha responsabilidade a ser assumida.
Cerca de 126 mil pessoas serão beneficiadas, porque além dos usuários de Três Pontas, os moradores de Santana da Vargem, Coqueiral, Boa Esperança e Ilicínea, terão o Centro de Reabilitação da Apae de Três Pontas como referência; e uma demanda estimada em 12.700 pessoas com deficiência, percentual estimado desta população.
O Centro Especializado em Reabilitação (CER) deve começar a funcionar em agosto e inicialmente a maioria das vagas, 450, já serão absorvidas pelos alunos/usuários que já são atendidos pela Apae e que precisam de reabilitação intelectual e outros 350 usuários da microrregião na área de deficiência física.
Na prática, a Apae amplia seu leque de atendimentos. As pessoas com deficiência intelectual e/ou autismo; doenças genéticas, síndromes raras, pessoas acometidas de doença de Alzheimer, Parkinson, sequelas de AVC, vítimas de acidentes e doenças que ficaram com sequelas com deficiências temporárias, ao invés de terem que procurar um tratamento especializado em um grande centro como em Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP), não precisarão mais sair da cidade, comemora a Superintendente do CER II Maria Rozilda Gama Reis. “Pessoas que tiveram algum membro amputado, sequelas de Acidente Vascular Cerebral (AVC) terão todo atendimento e acompanhamento especializado aqui mesmo”, divulga.
A instituição oferecerá inclusive órteses e próteses e meios de mobilidade, com avaliação, atendimento e acompanhamento daequipe multidisciplinar; que envolve médicos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e fonoaudiólogos.
Outra inovação que o CER traz, é o tratamento a pessoa ostomizada. Aquelas que passam por intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura) na parede abdominal, para adaptação de bolsa de fezes e/ou urina e por isto usam a bolsa de colostomia. A intenção é fazer uma parceria com o Hospital São Francisco de Assis, fornecendo atendimento de um médico gastroenterologista e o acompanhamento da Apae com enfermeiro e nutricionista, que faz a prescrição da dieta a ser realizada pelo paciente.
A Apae irá receber mensalmente um recurso na ordem de R$140 mil provenientes de repasse do Ministério da Saúde, com o desafio de ter que mais que dobrar o número de profissionais para conseguir atender à demanda, conforme determina o MS. Atualmente são 14 profissionais e mais 21 estão em treinamento. Assim, a Apae contará com quatro médicos, seis fonoaudiólogos, cinco fisioterapeutas, três terapeutas ocupacionais, dois nutricionistas, 01 assistente social, 01 pedagoga, dois enfermeiros e seis psicólogos. “É uma equipe grande que estará pronta para colaborar com a vida de uma pessoa que está com deficiência”, revela o gerente do Centro de Reabilitação da Apae Nuno Augusto Alves.
A conquista representa o reconhecimento pela excelência nos serviços prestados. A Apae sempre foi muito procurada para atender estes casos, mas por ainda não ser habilitada como CER não podia realizar tais atendimentos; que agora passam a fazer parte da sua tarefa diária. Uma das grandes preocupações é manter a qualidade nos serviços. “O nosso trabalho vai melhorar a vida de muita gente. Sabemos que existem muitas pessoas que ficam acomodadas e nem procuram ajuda para se reabilitarem. Um dos entraves é ter que se deslocar para outras cidades. Era uma angustia nossa quando nos procuravam aqui na Apae e não conseguíamos atender, por ter uma equipe reduzida e um público específico. Agora, todas as pessoas que tiverem dentro dos critérios, terão acesso e ganharão a oportunidade de ver que podem ter uma vida normal, porque muitos sofrem inclusive psicologicamente. Ainda mais as pessoas que são bastante produtivas e de uma hora para outra se veem vítima de um acidente ou uma doença e ficando assim limitadas. Ninguém está preparado para isto”, alertou Rozilda Gama. O Centro de Reabilitação é a realização de um sonho da equipe, de transformar positivamente a vida das pessoas e isto não tem preço.
Um processo burocrático e demorado, concluído com junção de esforços
Conquistar o Centro Especializado em Reabilitação foi um processo bastante burocrático e difícil. A Superintendente Rozilda Gama conta em detalhes como tudo aconteceu. A luta começou em 2013, quando a Apae de Três Pontas foi convidada pela Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais, para ser habilitada a tratar as deficiências intelectuais e físicas, sendo inclusive com referência na microrregião de Saúde. Foi uma mistura de felicidade e preocupação. É que a Apae já possui cerca de 550 usuários atendidos mensalmente e para atender às cidades da região, o número desta demanda duplicaria. Mas, seria o reconhecimento formal, fruto de muitos anos de trabalho.
Os primeiros passos foram dados com o ex-secretário de Saúde de Três Pontas -Hemórgenes Vanelli, no mandato do ex prefeito – Paulo Luis Rabello, que na época também era presidente do Conselho de Secretários Municipais de Minas Gerais (COSEMS). Este precisaria aprovar o nome de Três Pontas como referência nestes serviços de saúde. Hemórgenes conseguiu isto, sensibilizando os membros a entenderem que a Apae seria capaz de tratar a reabilitação intelectual e física na microrregião.
Em seguida, havia outro protocolo a ser vencido. Desta vez, passar pelo crivo da Coordenadoria de Atenção da Pessoa com Deficiência do Estado de Minas Gerais, onde haviam muitas outras cidades da região interessadas.
O tempo foi passando e a Apae já iniciava o processo de reestruturação física, humanizando ainda mais a instituição, buscando recursos através de projetos e capacitando sua equipe. Foram investidos recursos na ordem de R$300 mil em cursos especializados para melhor atender à pessoa com deficiência,para a equipe atual e futura equipe ministrados em Três Pontas e em grandes centros. Isto porque a direção já sabia que assim que fosse a Apae fosse habilitada, o serviço começaria a ser ofertado imediatamente. Mas na contramão, outros Centros foram habilitadospara outras localidades e Três Pontas parecia ter sido esquecida. Rozilda diz que isto provocou uma grande angústia e sofrimento.
Foi ai, que sentiu que precisava de apoio político. A direção procurou por um grande parceiro: o deputado federal Diego Andrade. Em setembro de 2017 ele se dispôs a abraçar esta causa. Agendou uma reunião com o então secretário de Estado de Saúde, o deputado Sávio Souza Cruz. O então vice prefeito Marcelo Chaves, que é do mesmo partido do Deputado, também foi de fundamental importância e fez uma interpelação, pedindo que a autorização do Estado fosse dada para habilitação da Apae junto ao Ministério da Saúde, pelo reconhecimento da excelência dos serviços prestados na área da Saúde.
Depois de muito esforço, a aprovação foi dada pelo Estado em março de 2018, abrindo caminho para seguir a próxima e última etapa, no Ministério da Saúde. A APAE aguardava e recebia muitos usuários que necessitavam de atendimento. Voltaram a recorrer ao apoio do deputado Diego Andrade e sua equipe; porque precisavam ser atendidos pelo Ministério da Saúde. Precisavam demonstrar ao MS que não era mais um Centro a ser habilitado, era uma Instituição e um município com competência para prestarem o serviço, faltava apenas o reconhecimento e claro, os recursos. Para grata surpresa a Portaria foi publicada coincidentemente no dia do aniversário de 161 anos da cidade Três Pontas. Um marco para o município e a instituição. “Peço que as pessoas olhem para a instituição com um olhar diferenciado. Não conquistamos esta habilitação da noite para o dia. A instituição sempre foi considerada modelo no atendimento à pessoa com deficiência e agora recebe o devido reconhecimento formal por tantas lutas travadas por todos que passaram e fizeram parte da história da Instituição, em especial à ex presidente da Apae, Adriene Barbosa de Faria Andrade, a qual em vida, aguardava ansiosamente por este grande reconhecimento. Lutamos muito e agora dobra a nossa preocupação. Esperamos que toda a população continuasse nos apoiando, uma vez que o recurso é insuficiente para o custeio deste novo serviço. Vamos com muito empenho e trabalho para oferecer o que há de ponta na região, no que se refere ao atendimento da pessoa com deficiência. Queremos ser referência como Centro Especializado em Reabilitação em Minas Gerais e vamos ser”, ressalta.
Avanços não param
A Apae já tinha um projeto que foi apresentado e aprovado no Ministério da Saúde com renúncia de receita,onde chegaram recursos em torno de R$ 1 milhão reais (renúncia de receitas e dedução de impostos de empresas), onde contamos com apoio do deputado estadual Mário Henrique “Caixa” (PV) no intermédio via CEMIG, onde esta aportou recursos financeiros na ordem de R$500 mil que foi destinado para readequação da estrutura da instituição, com adequação das normas de acessibilidade. O prédio ganhou um elevador para deficientes que fazem uso de cadeira de rodas; o acesso ficou mais rápido e mais fácil porque antes era apenas em uma rampa. Foi realizada a readequação da piscina, que ganhou um novo aquecedor e um elevador para a fisioterapia aquática, além de equipamentos modernos e de ponta.
Com recursos do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA), no valor de R$94.200,27 com obras que estão sendo realizadas no Parque e em entorno, visando à melhoria da acessibilidade e qualidade de vida, possibilitando uma melhor locomoção dos autistas e a esta área de acesso.
Um serviço que poucas sabem, mas a Apae já realiza, é o exame de Audiometria, não apenas para os deficientes, mas também para empresas que necessitam de realizar em seus funcionários o exame auditivo laboral que avalia a capacidade do paciente para ouvir e interpretar sons. Através do exame, detecta-se possíveis alterações auditivas.
Durante muitos anos a Apae trabalha para melhorar a comunicação dos autistas, aqueles que não falam. A inovação recente, é a compra de tablet’s. A comunicação que era bastante arcaica, feita no papel, hoje é feita através destes equipamentos, cada um com o seu. A equipe de fonoaudiólogas diz que eles adoraram a novidade. A instituição comprou uma licença vitalícia do software Livox, onde eles terão estes recursos para comunicar com as pessoas. “Isto prova mais uma vezque a deficiente pode serincluído e que o autista pode estar em todos os meios. O tablet (foto) o acompanha, no médico, no dentista, no dia a dia, e se torna importante até mesmo na hora das refeições. No equipamento eles demonstram, o que querem e o que sentem”, conta Rozilda.
Além da hidroterapia aquática, a fisioterapia ganhou equipamentos modernos. Referência na cidade, a Apae está substituindo as bicicletas ergométricas e esteiras que estavam obsoletas por novas e modernas.
A Apae comprou uma balança que faz a pesagem dos cadeirantes. Antes era preciso levá-los para pesar em outras cidades ou improvisar na balança que pesa os materiais recicláveis na Atremar.
Nesta nova etapa, foi preciso estruturar um Centro de Estudos com louça digital, data show, adquiridos com recursos do projeto Pronas. Na readequação da parte física, a Apae está investindo R$36 mil proveniente de emenda parlamentar para custeio do serviço, por intermédio deputado federal Eduardo Barbosa e espera a chegada de mais R$200 mil, sendo R$100 mil do deputado Diego Andrade e outros R$100 mil, que devem chegar do deputado federal Dimas Fabiano, por intermédio do vereador Luis Carlos da Silva. “Isto prova mais uma vez, que precisamos das emendas, precisamos do apoio político”, defende Rozilda.
A Brinquedoteca está sendo reestruturada e vai ganhar muitos novos jogos. No Parque terá cama elástica fixa. Uma grande inovação para quem utiliza próteses é oloft. É a simulação de um apartamento com toda a estrutura de uma casa, equipada com tudo. Fogão, geladeira, microondas, tanque para lavar roupas, banheiro para tomar banho. Ele possibilita que a pessoa que usa próteses, reaprenda estas atividades, para ter uma vida prática, o que na maioria das vezes, fica limitado por causa de uma doença ou um acidente.
A Apae quer ampliar a Equoterapia, recurso a mais para a reabilitação das pessoas, que funciona no Xodó dos Pádua, atendendo 12 pacientes por semana. A instituição paga aluguel mensal e se conseguir a doação de uma área para um centro maior, será possível atender 40 pessoas. Há uma equipe de fisioterapeuta, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, equitador – que conduz o cavalo, treinados em Brasília pela Associação Nacional de Equoterapia (Ande Brasil) e pelo SENAR. Através da terapia desenvolvida com os cavalos, reabilitamos a pessoa para ser inserida novamente na sociedade. “Nós já procuramos o prefeito para ver a possibilidade de nos doar uma área. Estamos em vias de negociação”, antecipou Rozilda.
Há poucos dias, por intermédio do deputado federal Diego Andrade, a instituição recebeu a doação de uma Van no valor de R$134 mil para fazer o transporte das pessoas que não conseguem se locomover até a entidade. Está sendo feita a adaptação no veículo em São Paulo (SP) que custou mais R$52 mil.
A instituição aproveita para agradecer a toda comunidade trespontana, sempre tão solidária com a Instituição. Aproveita, ainda para informar que as vagas para o Centro Reabilitação já estarão disponíveis à partir de agosto. Mais informações estão disponíveis pelo telefone do CER II (035)-3265-1127.