Momento em que o acusado foi rendido e contido pelos investigadores

 

Em uma cena digna de filme policial, um homem de 35 anos, acusado de um homicídio hediondo ocorrido em 2010 e que será julgado nesta quinta-feira (07), protagonizou uma fuga alucinante pelas ruas de Três Pontas no início da noite desta terça-feira (05). Ele desafiou policiais civis, colocou em risco a vida de pedestres e motoristas, colidiu com uma viatura e só foi capturado após uma intensa e perigosa perseguição por vias da cidade.

Segundo a Polícia Civil, a Justiça havia expedido dois mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão contra o acusado, após ele não ser localizado para receber as intimações referentes ao júri popular, que já foi adiado três vezes. O julgamento está marcado para esta quinta-feira, e, diante do risco de não ser intimado, foi determinada a sua prisão preventiva.

Com base em investigações e monitoramento, os policiais localizaram o suspeito na casa da irmã, no bairro Bom Pastor. As equipes, em viaturas descaracterizadas, aguardaram o momento certo para abordá-lo. Assim que ele saiu da residência e entrou em sua caminhonete, foi cercado por viaturas e recebeu ordem de parada.

Ignorando a ação, o homem deu marcha à ré e jogou o veículo violentamente contra uma das viaturas que estava posicionada atrás dele, arrancando em alta velocidade pelas ruas da cidade. Mesmo com disparos que atingiram os pneus da caminhonete, ele continuou dirigindo de forma extremamente perigosa. Passou por cruzamentos sem respeitar a sinalização, como o da Praça do Raul, onde quase atropelou um ciclista que precisou se lançar para fora da pista para não ser atingido. No trajeto, ele teria jogado uma segunda vez a caminhonete contra a mesma viatura já atingida.

Com dois pneus estourados e sem controle total da direção, o acusado percorreu diversas ruas, colidindo com carros estacionados, subindo em calçadas e danificando outros veículos que passavam. Na altura do Pronto Atendimento Municipal (PAM), mesmo com o trânsito intenso, ele aumentou ainda mais a velocidade, gerando pânico e risco de acidentes graves.

Outras equipes da Polícia Civil se mobilizaram. Uma viatura da Polícia Militar, que atendia uma ocorrência no PAM, se juntou à perseguição, que avançou até as proximidades do cruzamento com a Avenida Conceição Queiroz Marinho. Lá, o cerco foi finalmente fechado. Com viaturas à frente e atrás, ele foi impedido de prosseguir. Os policiais o retiraram do veículo, imobilizaram e prenderam. O trânsito na região precisou ser fechado por uma viatura da PM.

Segundo o delegado Dr. Guilherme Banterli Moreira, durante a tentativa de abordagem em frente a casa da irmã, todos os policiais estavam uniformizados e devidamente identificados. Ainda assim, o acusado alegou que não parou por acreditar que se tratava de um possível ataque — disse inicialmente que imaginou estar sendo perseguido por parentes da adolescente que ele é acusado de matar. Depois, mudou a versão, afirmando que pensou se tratar de uma tentativa de assalto.

As versões apresentadas, no entanto, contrastam com a dinâmica da ação policial. A identificação clara dos agentes, os disparos para conter a fuga tornam questionáveis as justificativas do acusado. A todo momento, ele repetia que “não era bandido”, mas os danos provocados — colisões, pneus furados, risco aos policiais, pedestres e motoristas — evidenciam o contrário.

Dr. Guilherme Banterli acrescentou que além do mandado de prisão referente ao homicídio que será julgado nesta semana, o homem foi autuado por desobediência, desacato, resistência, direção perigosa e diversas infrações de trânsito, e poderá também responder por tentativa de homicídio contra os policiais envolvidos na operação.

Durante a abordagem, o investigador Rodrigo Silva ficou ferido na mão ao imobilizar o suspeito e precisou de atendimento médico no PAM. No mesmo local, o preso passou por exame de corpo de delito. Em depoimento prestado na Delegacia, ele se manteve em silêncio sobre o homicídio pelo qual será julgado.

A caminhonete usada na fuga foi apreendida e será periciada. A viatura da Polícia Civil que foi atingida também precisou ser guinchada. Após os procedimentos legais, o acusado foi encaminhado ao Presídio de Três Pontas, onde permanece à disposição da Justiça.

Defesa contesta versão da polícia e nega que acusado estivesse foragido

Após a publicação da reportagem pela Equipe Positiva, o advogado de defesa do acusado, Dr. Dalton Braga, enviou uma resposta contestando a versão apresentada pela Polícia Civil. Segundo ele, o réu não estava fugindo de intimação e já havia sido pessoalmente intimado no dia 31 de julho para comparecer ao júri popular.

De acordo com o advogado, o acusado o contratou oficialmente na segunda-feira (5) para atuar na defesa durante o julgamento. Dalton afirmou que o processo foi colocado sob segredo de justiça, e que só teve acesso aos autos nesta terça-feira, o que limitou sua atuação até então.

Doença, ausência e troca de advogado: os motivos por trás dos adiamentos do júri

O julgamento do acusado pelo homicídio de Tais Alves Carolino já foi adiado três vezes nas últimas semanas, por motivos distintos e ligados à condução da defesa:

  • 16 de julho
    O primeiro adiamento ocorreu poucos minutos antes do início da sessão. Uma das testemunhas arroladas pela defesa apresentou problemas de saúde, o que foi constatado pelo próprio juiz no Fórum. Diante da impossibilidade de ouvir a testemunha, a defesa solicitou sua substituição. O pedido foi aceito, e a sessão foi redesignada.

  • 24 de julho
    Na segunda tentativa de realização do júri, a testemunha substituta não foi localizada no endereço informado nos autos. Como a defesa não foi intimada a tempo sobre a impossibilidade de localização, não houve tempo hábil para providenciar nova substituição. Diante disso, o juiz decidiu adiar novamente o julgamento.

  • 31 de julho
    Já na terceira data marcada, o próprio réu optou por substituir seu advogado de defesa. A mudança ocorreu às vésperas da sessão, sem que houvesse tempo hábil para que o novo defensor constituído tivesse acesso aos autos e se preparasse adequadamente para o julgamento. Por esse motivo, a sessão foi mais uma vez adiada.

Relembre o crime

O acusado será julgado por um crime que chocou Três Pontas e toda a região. Em 12 de fevereiro de 2010, Tais Alves Carolino, de apenas 16 anos, foi brutalmente assassinada. Ela estava grávida do acusado, que, segundo o Ministério Público, planejou sua morte por se recusar a assumir a paternidade do bebê.

Tais foi atraída para uma emboscada com a ajuda de uma amiga e do irmão do acusado — ambos menores de idade na época. A jovem acreditava que teria um simples encontro, mas foi levada para um local isolado às margens do Ribeirão da Espera, onde sofreu agressões por cerca de 20 minutos.

Com requintes de crueldade, foi golpeada diversas vezes com um espeto de madeira, inclusive em regiões sensíveis do corpo. Ainda viva, foi perfurada repetidamente e depois jogada no ribeirão. Seu corpo foi encontrado dez dias depois, em avançado estado de decomposição.

Segundo a denúncia, o acusado teria prometido R$ 500 às cúmplices pelo plano macabro — R$ 300 para atrair a vítima e R$ 200 para ajudar na execução. O crime ganhou repercussão regional e se tornou símbolo da brutalidade contra adolescentes e mulheres.

Agora, 15 anos depois, a cidade aguarda com expectativa o julgamento que já foi adiado pela terceira vez. A fuga cinematográfica do acusado às vésperas do júri reacende a revolta da população e a urgência por justiça.

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