

A expectativa era alta: dois dias de mutirão de castração no Quilombo Nossa Senhora do Rosário, em Três Pontas, com estrutura completa, profissionais especializados e capacidade para atender 120 animais por dia, entre cães e gatos. A ação, organizada pela ONG Mãos Amigas, com apoio do deputado estadual Noraldino Júnior, havia sido solicitada pelo vereador Antônio Carlos de Lima (Antônio do Lázaro) e contou ainda com o trabalho do vereador Francisco Fabiano Diniz (Professor Popó), defensor da causa animal no município.
O Castramóvel chegou ao distrito equipado e preparado para funcionar durante o feriado e o dia seguinte. A estrutura foi instalada na quadra do Distrito, ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Havia quatro veterinários na equipe, sendo três cirurgiões e um anestesista, além de auxiliares, motorista e o coordenador geral da ONG, Roberto Domingues Ramirez, que também é presidente da Mãos Amigas.
Mas, apesar do esforço envolvido, o resultado ficou muito aquém do esperado. Por volta das 15h do primeiro dia de atendimento, o mutirão já estava sendo desmontado. No total, apenas 50 animais foram castrados — menos da metade da capacidade prevista para o dia e muito distante do objetivo inicial.
A presença da ONG Mãos Amigas no Quilombo marcou a primeira passagem da entidade por Três Pontas. A equipe, acostumada a percorrer o Estado — já tendo realizado mutirões em mais de 40 municípios — trouxe ao distrito uma estrutura preparada para atender em larga escala.
Ao longo de quase 12 anos de atuação conjunta com o deputado Noraldino Júnior, a ONG soma mais de 20 mil castrações realizadas em Minas Gerais. O trabalho se tornou política pública de Estado, assumido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), mas ainda sustentado pela articulação e apoio do deputado.

Durante a visita da reportagem, o coordenador Roberto Domingues Ramirez explicou detalhadamente que o mutirão não é apenas uma ação pontual, mas uma estratégia de combate ao abandono e à superpopulação de cães e gatos. Apenas 1 a cada 10 animais encontra um lar, enquanto os outros permanecem nas ruas, sujeitos a maus-tratos, atropelamentos, fome e doenças.
Os benefícios da castração também incluem a prevenção de diversos problemas de saúde. Em fêmeas, evita doenças como piometra e câncer de útero e mama. Em machos, reduz drasticamente o risco de câncer de próstata. A equipe reforça que o procedimento não altera o temperamento dos animais: cães protetores continuam protetores, cães brincalhões continuam ativos. A única mudança esperada é a diminuição da agitação relacionada ao cio, fugas e brigas.
Mesmo com ampla divulgação — por rádio, redes sociais, lideranças comunitárias e avisos na igreja das comunidades — a adesão foi muito baixa. Tanto o vereador Antônio do Lázaro quanto o vereador Professor Popó relataram que as reclamações sobre cães soltos, ninhadas constantes e abandono são frequentes, especialmente por parte de moradores das áreas rurais. No entanto, quando surgem oportunidades gratuitas para castrar os animais, muitos não comparecem.
Essa ausência não é exclusividade do Quilombo. Segundo relatos do vereador Popó, ao longo do ano, o programa municipal de castração gratuita também enfrenta alta taxa de faltas: moradores solicitam vagas, aguardam na fila, fazem a inscrição — mas, no dia da cirurgia, não levam o animal. Em seguida, procuram o vereador, protetores e a própria ONG pedindo ajuda para resgatar filhotes não planejados, vítimas justamente da falta de castração.
Com apenas 50 animais atendidos e menos da metade da capacidade preenchida, a equipe julgou inviável permanecer até o final da tarde e, muito menos, estender para o segundo dia. Por isso, toda a estrutura foi desmontada no meio da tarde.
Para os organizadores, o mutirão poderia representar um avanço significativo no controle populacional do distrito, além de oferecer prevenção em saúde para dezenas de animais que, muito provavelmente, continuarão reproduzindo e gerando ninhadas que acabam na rua.
A ação também poderia diminuir o número de reclamações frequentes sobre cães soltos, brigas entre animais, cadelas no cio e abandono de filhotes — problemas relatados por moradores e confirmados pelos vereadores presentes.

Apesar da frustração, tanto a ONG Mãos Amigas quanto os vereadores envolvidos afirmaram que esperam retornar ao Quilombo em uma próxima oportunidade, desde que haja maior mobilização e consciência coletiva.
A equipe da ONG expressou gratidão pela pequena parcela da população que levou seus animais, reconhecendo que, ainda que em menor número, essas castrações já significam menos animais abandonados e menos sofrimento no futuro.


















