
O Coletivo “O Bota é Lindo” nasceu como uma simples reunião de amigos no Botafogo — encontros despretensiosos, marcados pelo samba, pela alegria espontânea e pela sensação de pertencimento. Com o passar do tempo, essa roda que começou pequena foi ganhando corpo, visibilidade e apoio da própria comunidade. A cada edição, cresceu o número de participantes, multiplicaram-se os sorrisos e se fortaleceu a consciência de que a turma é feliz, unida e orgulhosa de suas raízes. Hoje, esse movimento afetuoso e comunitário integra oficialmente a Semana da Consciência Negra e Afromineiridade de Três Pontas, realizada pela Prefeitura Municipal e parceiros.
E foi justamente nesta quinta-feira, dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, que a festa tomou conta da Praça do Botafogo, reservada exclusivamente ao movimento. Ali, o coletivo cumpriu mais uma vez o seu papel: reunir amigos, convidar moradores de toda a cidade e celebrar a identidade negra em um ambiente de alegria, respeito e memória.
Durante toda a tarde, o público foi chegando — mesmo sob sol forte — com disposição para viver mais um capítulo do tradicional samba do Botafogo. Enquanto algumas barracas serviam churrasquinho e cerveja gelada, outros preferiram levar de casa suas bebidas, cadeiras, a família inteira e até as crianças. Se existe um bairro que tem o samba na raiz, esse bairro é o Botafogo: foi ali que nasceu o Grupo Magia Negra, a Escola de Samba Consciência Negra e ali permanece a emblemática estátua de Zumbi dos Palmares, recentemente restaurada pela Prefeitura, apesar dos questionamentos com o resultado da arte nela colocada.
Em meio à quadra duas grandes tendas aproximaram ainda mais o público dos artistas que animaram a tarde. Sem barreiras, sem formalidades e com a naturalidade de quem se apresenta para amigos de longa data, os shows aconteceram ali, sem palco, pertinho das pessoas. Muitos moradores que há anos deixaram o bairro foram vistos retornando, emocionados, reencontrando amigos e reacendendo memórias. A tarde foi cheia de homenagens, entre elas ao ex-vereador Sérgio Eugênio Silva, que foi o primeiro no mandato anterior a destinar recursos públicos, através de suas emendas impositivas e ampliando a celebração que acontece todos os anos.
A programação reuniu talentos que nasceram ou cresceram no Botafogo: os MC’s Nenego, Santiago e Neco, além da dupla Hugo & Léo, que mostrou versatilidade ao passear do sertanejo ao pagode com domínio e simpatia. O ponto alto, como não poderia deixar de ser, foi a roda de samba — momento em que todos se juntaram para fazer o que sabem de melhor, especialmente no lugar onde aprenderam a amar o ritmo.

Quando a noite começou a cair e o público permanecia firme, chegou a Batucada Maluca, trazendo sua mistura contagiante de ritmos. Com a leveza de quem carrega um brinquedo, seus integrantes transformam instrumentos de percussão e sopro em extensões naturais do próprio corpo, fazendo a festa pulsar e movimentando todos ao redor. A festa que começou com alegria, terminou mais cedo, por problemas de confusão na praça.
E tudo isso com a marca que dá sentido ao evento: a celebração da igualdade. A festa reforça que não é a cor da pele que define o ser humano, e que todos — sendo ou não moradores — são bem-vindos a uma comemoração aberta, estruturada com banheiros, tenda, som, seguranças e o apoio da Polícia Militar.
Mais do que um movimento, o Bota é Lindo se consolida como uma expressão viva de pertencimento, alegria e resistência. Foi mais um dia de celebrar a comunidade, honrar a história, valorizar nossa cultura e construir, juntos, um momento especial para todos.



















