
Levantamento da PM aponta aumento de registros de violência doméstica no município
Por Mariana Tiso para Equipe Positiva

Agosto é o mês em que a cor lilás ganha destaque em prédios públicos, eventos e campanhas pelo Brasil. É o Agosto Lilás, movimento nacional que reforça a luta pelo fim da violência contra a mulher e marca o aniversário da Lei Maria da Penha que completou 20 anos em 2024. A campanha busca conscientizar, prevenir e incentivar a denúncia, lembrando que a violência doméstica não é um problema privado, mas uma questão social e de saúde pública.
Em Três Pontas, a data foi lembrada com uma Roda de Conversa promovida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação, por meio do programa Três Pontas por Elas, e pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher. O encontro aconteceu na noite de terça-feira (12), no Plenário Presidente Tancredo Neves, na Câmara Municipal, reunindo autoridades, representantes de entidades, profissionais da rede de proteção e mulheres da sociedade civil. O objetivo foi criar um espaço de diálogo aberto para compartilhar informações, esclarecer dúvidas e fortalecer a articulação entre os órgãos que atuam no enfrentamento à violência doméstica.
Uma rede que atua todos os dias
Antes do início da Roda de Conversa, o público foi recebido com uma apresentação especial do coral Cigarras Cor de Rosa, sob regência do maestro Mauro Marques. Vozes e violão se uniram em duas canções interpretadas pelo grupo, criando um clima acolhedor e sensível para abrir a noite de debates.
A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, Maria Carolina Chavasco, abriu o evento reforçando que aquele momento era para participação ativa, troca de experiências e aproximação entre a população e as autoridades.

A secretária municipal de Desenvolvimento Social e Habitação, Marina Daniela Salgado Silva, falou sobre o compromisso diário da pasta na articulação da rede de proteção. Ressaltou que o trabalho envolve diversos setores e exige empenho constante, acolhimento e sensibilidade. Ela destacou a necessidade de união para que, no futuro, nenhuma mulher precise estar em situação de violência.

Representando a Secretaria Municipal de Educação, Francislaine Moreto lembrou que muitas situações de violência começam a ser percebidas no ambiente escolar, onde surgem os primeiros sinais. Para ela, a educação pode — e deve — contribuir para prevenir e enfrentar o problema.
Olhares da Justiça e da segurança
A assessora Kautyn Duarte, representando o juiz da Comarca de Três Pontas, Bruno Mendes Gonçalves Villela, explicou que a atuação do Judiciário geralmente acontece depois que a violência já foi registrada, mas que é fundamental apoiar ações preventivas. Ela reforçou a importância de as mulheres conhecerem seus direitos e os caminhos disponíveis para romper o ciclo da violência.
O investigador Stéfany Assunção, da Polícia Civil, afirmou que o enfrentamento à violência doméstica vai além do trabalho policial e precisa ser visto como uma responsabilidade coletiva. Disse que a delegacia está de portas abertas para acolher, orientar e investigar, e que toda a sociedade deve estar envolvida na proteção das mulheres.
Pela Polícia Militar, o tenente Júlio Flávio Costa Viana apresentou dados que ajudam a compreender o cenário da violência doméstica no Estado e no município, destacando que a corporação atua com agilidade nos chamados e permanece como um ponto de apoio às vítimas.

Levantamento revela cenário da violência doméstica em TP
De acordo com levantamento atualizado feito pela Equipe Positiva feito junto a Polícia Militar de Três Pontas sobre a violência doméstica no município, comparando o período de janeiro a julho de 2024 com o mesmo intervalo de 2025. Os números mostram um aumento de aproximadamente 10% nos registros de ocorrências. Segundo a PM, esse crescimento pode ser interpretado como um reflexo positivo da maior conscientização e do encorajamento de mulheres para buscar ajuda e formalizar denúncias.
Entre os crimes mais registrados no período estão ameaça, lesão corporal e vias de fato/agressão. Esses tipos de ocorrência representam diferentes níveis de violência — desde intimidações verbais até agressões físicas que deixam marcas ou resultam em ferimentos mais graves.
O levantamento também aponta que mais de 50 agressores foram presos em flagrante nos primeiros sete meses deste ano, evidenciando a ação rápida da Polícia Militar e a efetividade das medidas protetivas quando acionadas.
Outro dado relevante é que a maioria dos casos acontece dentro do próprio ambiente doméstico, reforçando que, para muitas mulheres, o local que deveria representar segurança se torna palco de violência. Essa constatação destaca ainda mais a importância de campanhas como o Agosto Lilás, que estimulam o debate, a prevenção e o fortalecimento da rede de apoio.
Representatividade e política
A vereadora Valéria Evangelista Oliveira destacou a luta histórica das mulheres pela participação política e criticou a baixa representatividade feminina em Três Pontas. Em toda a história da Câmara Municipal, apenas 11 mulheres ocuparam cadeiras no Legislativo, e o município chegou a ficar quase dez anos sem nenhuma representante. Ela defendeu a criação de um espaço permanente na Câmara para registrar e valorizar essas trajetórias, como forma de inspirar novas candidaturas femininas.
Representando o Executivo, o vice-prefeito e secretário municipal de Cultura, Maycon Douglas, reforçou que discutir o tema é essencial, mas que é ainda mais importante agir. Para ele, a união entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil é o caminho para garantir um ambiente de respeito e segurança às mulheres.
Na sequência, a presidente da ACAITP Mulher, Paula Terra, destacou a relevância de trazer o tema para debate, ressaltando que falar sobre violência doméstica é também iluminar informações que podem salvar vidas. Ela explicou que, hoje, defende ainda mais essa causa e utiliza o espaço da ACAITP Mulher como ferramenta de apoio e conscientização. Paula reforçou que, para romper o ciclo de violência — seja física ou psicológica —, é fundamental que a mulher tenha condições de se sustentar e conquistar segurança econômica. Nesse sentido, afirmou que o incentivo ao empreendedorismo feminino e a promoção de debates e ações conjuntas são compromissos centrais da entidade.

A assistente social Mariana Dixini aproveitou o momento para explicar como funcionam os equipamentos de assistência social da Prefeitura e de que forma eles podem ajudar mulheres em situação de violência, ressaltando que a informação é uma ferramenta poderosa de proteção.
O presidente da Câmara Municipal, Myller Bueno, disse que a Casa passa por mudanças estruturais e também de postura política. Defendeu novos olhares para causas importantes, como a defesa das mulheres, e apoiou a proposta da vereadora Valéria para criar a galeria com fotos das vereadoras que já passaram pela Câmara.
Debate produtivo e encaminhamentos
A Roda de Conversa foi marcada por perguntas diretas do público, relatos de experiências e sugestões para fortalecer o trabalho conjunto da rede de proteção. Foram discutidas formas de melhorar o atendimento, ampliar a divulgação dos serviços e garantir que as vítimas sejam acolhidas com respeito e dignidade.
Ao final, os participantes reforçaram o compromisso de seguir trabalhando juntos em ações permanentes de prevenção e combate à violência doméstica, lembrando que a causa exige união, empatia e coragem para transformar realidades.
Se você está em situação de violência, procure ajuda
Em Três Pontas, o atendimento pode ser feito pela Polícia Militar (190), Polícia Civil (197) e pelos serviços da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação.
