*Devotos participaram das celebrações especiais da festa, de sexta até domingo
REPORTAGEM: Denis Pereira – A Voz da Notícia
Fotografias: Hécio Rafael
Três Pontas voltou a receber milhares de romeiros e devotos do Beato Francisco de Paula Victor em 2022. O aniversário de morte de 117 anos, foi celebrado na sexta-feira (23) e o movimento na cidade seguiu até neste domingo. Após dois anos de pandemia, este foi a primeira vez que o Município voltou a receber os devotos e peregrinos para as festividades.
Nos tempos difíceis da Covid-19, as celebrações foram feitas à distância, transmitidas pelas mídias sociais da Paróquia Nossa Senhora D’Ajuda. Mas, agora, a cidade abriu suas portas e convidou a todos para demonstrar a fé no sacerdote negro, que venceu os desafios da época dentro do seminário, se tornou padre e mesmo ordenado, enfrentou em 1852, o preconceito de fazendeiros que não admitiam um padre negro, ao ser designado para a vila que aqui era na época.
O cenário deste ano foi bem diferente dos períodos de pandemia. Apesar de não ter a multidão anterior a 2019, os romeiros voltaram. O público foi bastante dividido e o maior movimento foi no feriado municipal de 23 de setembro. A Paróquia que foi elevada recentemente a Santuário Diocesano de Nossa Senhora D’Ajuda, onde estão os restos mortais de Padre Victor, preparou celebrações para o dia todo. A cada duas horas, um sacerdote da Diocese da Campanha presidia missa para uma Igreja cheia. A fila para passar em frente aos restos mortais ao lado do altar principal, ficou enorme e os devotos se emocionaram ao poder ver de pertinho a imagem do Beato Anjo Tutelar.
Desde a madrugada os voluntários voltaram a servir o famoso cafezinho. No caminho a Três Pontas, nas rodovias de Varginha e Santana da Vargem e na estrada para a Capela Santa Cruz na comunidade rural da Faxina. Os peregrinos encontravam pão com manteiga, leite, achocolatado, água, bolacha, o carinho e atenção de quem se disponibiliza a receber de forma diferente quem visita a Terra de Padre Victor.
Os trespontanos desde o dia 14, puderam participar da novena em louvor ao Beato. A novena proporcionou horários diferenciados, inclusive na hora do almoço a oportunidade de se preparar para a maior festa religiosa da região. De manhã, antes mesmo do dia clarear a multidão voltou a participar da procissão da penitência e de missas até a noite.
No dia da festa, a procissão da penitência teve como destino a Capela do Padre Victor, na Faxina. Os trespontanos ao chegarem, encontraram uma cruz de 7 metros de comprimento, carregada por um empresário do interior de São Paulo, que veio cumprir promessa por ter alcançado um milagre atribuído ao Beato Padre Victor.
Na Praça Cônego Victor, entre as tendas para marcação de missas e registro de romarias, a Associação Padre Victor, colocou disponível voluntários que ouviram e registraram os relatos de graças alcançadas. Quem sabe uma delas pode ser o milagre que a igreja católica espera e precisa para canonizar Padre Victor. Assim, com a comprovação dos milagres e envio deles para o Vaticano, na Itália, será possível a canonização e o reconhecimento mundial dos feitos do Beato. Durante o ano, os devotos podem relatar as graças pessoalmente ou através de cartas, endereçadas à Associação Padre Victor. O Memorial onde estão guardados as relíquias funcionou o fim de semana inteiro e ainda atendeu os visitantes com os sanitários.
As 9:00 horas, o bispo da Diocese de Campanha, Dom Pedro Cunha Cruz celebrou na Matriz, junto com vários sacerdotes e diáconos. Na homília, falou da alegria em poder retornar as festas litúrgicas, como antes da pandemia. E sentiu que a volta foi com uma força mais acentuada e renovada. Considera que atravessamos um deserto pandêmico, que nos inspira a um momento apocalíptico, onde Deus na travessia fez com que cada um visse a envergadura da sua fé. Porque no deserto somente aqueles que confiaram na palavra de Deus e sentiram a sua presença, puderam chegar a terra prometida. “Assim também fomos nós que depois dois anos difíceis, de perdas, medo e tentação e falta de esperança, passamos por tudo isso, amadurecendo a nossa fé, valorizando ainda mais a vida, como dom de Deus”, pregou Dom Pedro.
Ao andar pelas ruas da cidade, o bispo percebeu que são as pessoas mais simples e humildes que todos anos recorrem a este Santuário. Ao passar pelo meio do povo, ficou olhando o rosto de cada um e vendo como o povo ama os sacerdotes.
Ainda segundo o líder religioso da Diocese da Campanha, antes mesmo de ser beatificado Padre Victor já é reconhecido como santo, por isso as pessoas o chamam de meu ‘Santo Padre Victor’. Espera-se a canonização, o que representa simplesmente que a igreja reconhece de forma oficiosa, esta sua santidade, porém, quantas graças e milagres já aconteceram na vida de muitos romeiros e devotos, independente deste reconhecimento. “O que importa para nós não é se ele vai ser santo, daqui a um, três ou cinco anos, mas o que mais importa é o efeito das semeaduras que Deus faz através deste homem, que combateu os preconceitos e seguia os passos de Jesus.
Trilha das Virtudes
As missas seguiram até a noite deste domingo, com horários especiais e recebendo um grande número de devotos. Com uma programação ainda festiva, de manhã, os ciclistas participaram da Trilha das Virtudes. Assim, como a Trolada das Virtudes, o evento criado na Paróquia Nossa Senhora das Graças reuniu atletas que adoram curtir a natureza em cima de uma bike.
Antes da saída, eles rezaram e receberam as bençãos dada pelo pároco, padre Sebastião de Abreu Salgado. Para ganhar mais disposição se alimentaram com frutas e bolos e hidrataram com água. Guiados pela Guarda Municipal e a Polícia Militar, até a saída da cidade, os ciclistas puderam optar por dois trajetos de 45 e 30 quilômetros, que se encontravam em um ponto de apoio, na Comunidade Maria Rainha, onde eles receberam de graça chup chup, mais frutas, água, com direito a música ao vivo. Foram mais de 300 inscrições, todos voluntariamente puderam doar alimentos que serão destinados às famílias carentes cadastradas. Além de trespontanos, vieram ciclistas de Campos Gerais, Varginha, Coqueiral, Boa Esperança, Paraguaçu, Três Corações, Ilicínea e Carmo da Cachoeira.
Queima de pedidos
O pároco Cônego Douglas José Baroni celebrou a missa das 10h30 e no fim dela aconteceu a queima dos pedidos. Desde o dia 14, início da novena, os devotos colocaram em uma caixa os pedidos que desejam receber por intermédio de Padre Victor. Um momento que acontecia sempre nas tardes da véspera do dia do aniversário de morte do Beato, este ano foi no domingo, após a data. Assim, os romeiros também puderam colocar no papel os seus desejos que esperam ser realizados.
Nos primeiros bancos da Matriz, participaram membros da Pastoral dos Surdos, da Paróquia São Sebastião de Varginha. A atuação dos interpretes na língua de sinais chamou a atenção.
Em procissão, a caixa de madeira foi levada em frente a Herma do Padre Victor, no adro da Matriz. Lá, Cônego Douglas com a relíquia de Padre Victor nas mãos, fez uma cerimônia para a queima dos pedidos. Rodeado pelos fiéis, ele ainda aspergiu a todos com água benta e deu as bençãos com a cruz que Padre Victor usou nos 53 anos que pregou na cidade. Apesar de mais três celebrações eucarísticas ao longo da tarde e noite, a queima dos pedidos concluiu a festa dos 117 anos de morte de Padre Victor, na certeza que unidos e confiantes estaremos com saúde e disposição para ano que vem possamos estar juntos para mais uma demonstração de fé.
Feirinha do Padre Victor
No Parque Multi Uso da Mina do Padre Victor, os vendedores ambulantes montaram suas estruturas e vendem de tudo. De comidas, a imagens religiosas, roupas, calçados, brinquedos, ferramentas, materiais eletroeletrônicos e tudo que se possa imaginar. Depois de duas chuvas fortes que eles enfrentaram no Parque, os barraqueiros que conseguiram se manter na atividade e venceram a Covid-19 com saúde, aproveitaram mais uma grande oportunidade de venderem em Três Pontas. A venda na feira segue até esta segunda-feira ao meio dia.
Até a publicação desta reportagem, a organização não havia divulgado o número de pessoas que passaram pela cidade durante todo o evento.