Reportagem especial: Denis Pereira - A Voz da Notícia

 

Chegou a hora de vacinar as crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19. As doses já foram distribuídas aos municípios e a imunização já começou na maioria deles. Prioridade neste momento é para crianças com deficiência permanente ou com comorbidades. A imunização completa é por meio da aplicação de duas doses da vacina com o intervalo entre a primeira dose (D1) e a segunda dose (D2) de oito semanas. Para as crianças as doses do imunizante são diferenciadas, o frasco é na cor laranja, com dose de 0,2ml, contendo 10 mcg da vacina Covid-19.

Pesquisas demonstram ainda que a administração do imunizante em crianças apresenta uma eficácia de 90,7% para a prevenção das complicações da Covid-19 em pelo menos sete dias após a segunda dose. E não foram observados eventos adversos graves associados à vacinação.

Diante de tantas dúvidas e questionamentos sobre vacinar ou não as crianças, a Equipe Positiva foi ouvir um especialista no assunto. A doutora Cinthia Chaves é pediatra e pneumologista pediátrica, mestre em saúde da criança e do adolescente pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é professora da Faculdade de Medicina na UNI-BH em Belo Horizonte e é a atual coordenadora do Núcleo do Pediatria da Faculdade.

Como ela trabalha com doenças respiratórias há muitos anos, a Covid-19 passou a fazer parte do seu ‘arroz com feijão’, tanto no dia a dia do seu consultório, como da cobrança de seus alunos. Ela revela que foi inundada com uma quantidade de informações nos últimos anos absurdas e por isso teve que correr muito para ficar minimamente informada sobre o que está acontecendo. A médica defende com unhas e dentes a vacinação de crianças e alerta que a Covid-19 é uma doença séria, que matou muita gente, 2.500 crianças e deixou em muitas sequelas irreversíveis. Por isso, o medo não deve ser da vacina, mas da Covid-19.

ENTREVISTA 
DRA. CINTHIA CHAVES
PEDIATRA E PNEUMOLOGISTA PEDIÁTRICA

As vacinas são seguras para serem aplicadas em crianças?

A vacina é segura sim. Os trabalhos sérios realizados com rigor científico mostram que toda vacina tem risco de reações. Mas o risco de reação é menor do que o risco de se contrair a Covid-19. A orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria é de que não devemos temer a vacina e sim do Covid. Nós perdemos 2.500 crianças por Covid-19 no Brasil. É pouco em relação a população adulta, mas são 2.500 famílias que perderam crianças, isso não pode ser ignorado. É uma mortalidade altíssima dentro da população pediátrica. E pensem que 2.500 crianças é a ponta do icebergue. Mas, quantas crianças foram para na UTI? Quantas ficaram com sequelas? A criança está em fase de crescimento e desenvolvimento, uma doença grave neste momento facilmente pode ser um evento irreparável. Com sequelas pulmonares, neurológicas, cardiovasculares e psicológicas. Além das crianças que ficaram sequeladas no momento da doença, existe ainda a Covid longa. Isto é, a pessoa que tem Covid-19 e depois tem a persistência daqueles sintomas.A pessoa continua com falta de ar por meses, continua com tosse, com problema neurológico e até sensorial. As vezes esta criança foi internada na enfermaria ou apresentou um quadro leve e ainda assim apresenta sintomas períodos prolongados. Precisamos proteger as crianças, Covid não é brincadeira.

Que dizer que as crianças sofrem o risco de complicações cardíacas e pulmonares caso contraiam a Covid-19, assim como os adultos?

Sim. Existem as complicações respiratórias, cardíacas, síndrome de inflamação multi sistêmica entre outras, o que é muito grave, e apresenta risco de morte e internação. O Covid-19 deflagra na criança uma série de problemas graves. Nos Estados Unidos, o órgão responsável pelas recomendações de vacinação, mostrou em análise que os benefícios da vacinação (prevenção de casos, hospitalizações e mortes) neste grupo etário superavam os riscos (ocorrência de casos de miocardite) em todos os grupos etários em que a vacinação está recomendada, tanto em adolescentes como em adultos jovens. Importante se faz destacar que os casos de miocardite epericardite observados por efeito adverso da vacina contra a Covid-19 tem sido quase sempre muito menos graves do que a miocardite na mesma faixa etária causada pela própria Covid-19 e do que miocardites observadas após outras causas, necessitando de menos dias de internação (em média 3 dias) e menor necessidade de admissão em unidades de terapia intensiva.

A vacina contra a Covid-19 então não evita apenas o óbito, mas as internações e complicações que ela pode causar?

Nas crianças e na população adulta também. Ela vai proteger as crianças e também o entorno delas, porque as crianças também transmitem a Covid. Daqui a pouco vão voltar para a escola, vão se misturar com outras e depois voltar para suas casas e podem transmitir a doença. Já existe comprovação de que a pessoa vacinada, mesmo quando contrai a Covid ela transmite menos. Precisamos vacinar as crianças para proteger a criança, da doença, da sequela, da morte, da complicação que ela sofre e para diminuir a contaminação no seu meio de convívio. Assim protegemos a criança e a família. Como por exemplo, os avós que tem comorbidades e que o sistema imunológico não responde tão bem assim a vacina, totalmente diferente dos pequenos.

E as crianças que tem algum tipo de comorbidade então a necessidade é ainda maior?

É urgente. A gente tem que vacinar o mais rápido que conseguirmos. E, assim como nos adultos, temos que vacinar primeiro as crianças com comorbidades.

As crianças podem ter reações a vacina?

As crianças podem ter sim reação, assim como eu tive e todo adulto pode ter. Toda vacina pode cursar com algum grau de reação, embora a maioria das pessoas não tenham nada. O risco é de efeitos colaterais da vacina é baixo. Mas precisamos de entender que eles não se comparam com o risco da própria infecção. Na população pediátrica, as mães estão mais acostumadas com isso que os adultos. Mas, a maioria das vezes são reações leves as quais já estamos acostumadas.

Mesmo depois da aplicação da primeira dose nas crianças, é preciso manter os cuidados sanitários, como o uso da máscara, o uso de álcool em gel e distanciamento social?

Com certeza. E lembrando que a vacina diminui muito as complicações mas não impede de você pegar a doença. E a ômicron diminuiu isso ainda mais. O número que a gente tem com a vacina da Pfizer, mostra que a pessoa sendo vacinada, tendo feito reforço ela conseguia uma proteção de 80% aproximadamente contra as variantes anteriores do Covid. Com a ômicron isso caiu para 30% de proteção. Quem se vacina tem uma boa proteção para não morrer, para não complicar, mas não para pegar a doença. Você pode se vacinar, fazer as doses de reforço e pegar a doença sim e as crianças também. O ideal hoje é que todos se vacinem e tomem as doses de reforço, mas continuar usando máscara e fazendo o distanciamento social.

A tendência é que as crianças devem receber doses de reforço? 

A princípio sim. A gente deve ter doses de reforço nas crianças assim como estamos tendo na população adulta.

As crianças que estejam com sintomas gripais podem tomar a vacina?

A gente vai seguir a mesma orientação que as mães já conhecem das vacinas anteriores. Sintoma gripal não é contra indicação da vacina.

Quais os cuidados os pais devem tomar caso a criança teste positivo para a Covid-19, para evitar que ela transmita para outras pessoas adultas de casa, haja vista que a criança tem dependência?

É muito mais difícil. Neste caso, precisamos usar máscara o tempo todo, inclusive dentro de casa, lavar as mãos, separar a criança dos outros membros da família e ter muita atenção com os avós. Aqui no consultório, temos muitas crianças que os pais saem para trabalhar e elas ficam sob os cuidados dos avós. Neste caso não tem como deixa las, é preciso manter o distanciamento social.

“Não é uma gripezinha, temos que tomar cuidado”

A gente tem visto este ano, muita gente com gripe nesta época que geralmente não tinha. Como evitar isto em crianças?

Estamos em meio a três epidemias – da influenza, da Covid delta e da Covid ômicron ao mesmo tempo. Esta é uma situação inusitada, uma fase histórica triste para a medicina. No verão normalmente não teríamos essa quantidade de doenças respiratórias. Em 2021, infelizmente tivemos no Brasil um recorde de óbitos. São números reais traduzidos em atestados de óbito. Tivemos ano passado, mais pessoas que morreram do que nasceram em nosso país. E isto é muito, muito triste. Não é uma gripezinha, temos que tomar cuidado. Graças a Deus estamos vacinados, a mortalidade diminuiu mas não pode ser encarado como uma doença leve. Temos que tentar fugir dela, o máximo possível, do jeito e da forma que as pessoas puderem.

Qual o seu recado para pais ou responsáveis que talvez estejam pensando em não vacinar as crianças?

Eu vou reforçar a frase da Sociedade Brasileira de Pediatria: “Precisamos ter medo do Covid-19 e não da vacina. A doença é muito mais letal e arriscada do que a vacina.”

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