Por Loui Jordan
O olhar sempre foi a maneira mais popular de se observar, de sentir a presença do outro, muitas vezes este olhar é abastecido de riquezas. A APAE de Três Pontas, associação que está presente na vida de muitas pessoas, em especial na vida de crianças com deficiência, desenvolve ações de intervenção precoce desde o ano 2005. Em 2019, a instituição conseguiu efetivar um significativo programa de intervenção durante o primeiro ano de vida de bebês nascidos em Três Pontas com o Programa OLHAR – Acompanhamento Infantil. Esta proposta de atendimento teve início em 2014, na época funcionou como um projeto, com início, meio e fim. O programa tornou-se permanente na APAE, graças ao empenho de profissionais da saúde e claro, da administração da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Três Pontas, que mais que abraçar causas, tem abraçado pessoas.
O programa OLHAR tem como objetivo avaliar o desenvolvimento de bebês durante o primeiro ano de vida. A escuta do cuidador juntamente com o bebê é o principal aspecto. Conhecer a realidade cultural e familiar da criança é essencial para um trabalho diferenciado, que leve em consideração a singularidade de cada caso atendido. Os laços afetivos e aqueles que cercam a rotina do bebê também precisam ser ouvidos.
Como funciona o programa?
O Programa consiste em um espaço de escuta para o bebê e seu cuidador. São avaliados aspectos de desenvolvimento infantil, levando em consideração que alguns sinais nos mostram como o bebê está se constituindo na relação com o mundo e com os outros. Se for identificado que algo não vai bem com este bebê, ou na relação cuidador-bebê, é realizada a intervenção precoce. A porta de entrada para a avaliação no Programa, é o Teste da Orelhinha que no município de Três Pontas, é feito na APAE. Após o Teste da Orelhinha, já é marcada uma avaliação com o bebê e sua família. Essa avaliação é uma entrevista e os pais são os grandes emissores nessa fase infantil de seus filhos. Assuntos como o dia a dia da criança, como ela se comporta, se teve alguma ocorrência na gestação, e o que mais essa família julgar importante dizer, torna-se a pauta que norteia o diálogo.
Terminada a conversa, o bebê terá seu retorno já com data marcada, a primeira etapa de abordagem é feita com 4 meses de vida, a segunda é com 9 meses, tudo isso visando que o primeiro ano de vida seja assistido sistematicamente. São duas etapas semelhantes que esperam resultados diferentes. Todo trabalho e seu processo na APAE são desenvolvidos de forma conjunta em termos de rede de saúde. O encaminhamento após o procedimento é algo que, se necessário, faz parte do tudo que abrange o programa, e se for constatado algum risco psíquico durante a avaliação do programa OLHAR, é feita a intervenção na APAE.
Identificar a relação do bebê com o outro é a informação primordial que ecoa nos moldes processuais da engrenagem do procedimento. Cada caso é um caso, toda criança e respectivamente as famílias, possuem algo a dizer e a sentir. Muitas vezes, conhecer a família é também descobrir um pouco mais do ambiente do bebê, o convívio é uma chave para um primeiro contato.
Como tudo começou?
Tudo começou com ideias de inovação e cuidado com o outro, seja ele quem for. Isabela Garcia Andrade, Isabela Ulisses Sâmia e Laís Helena Boson foram as precursoras do projeto OLHAR. Todas são psicólogas e após um período de estudos na França, em 2010, Isabela Andrade observou um novo modelo de intervenção precoce e avaliação de cunho psicanalítico. Trata-se do protocolo PREAUT (Programme de Recherche et d’Études sur l’autisme), segundo Isabela Andrade “como o bebê demonstra que sente prazer com o outro, se ele convoca o cuidador a continuar brincadeiras satisfatórias para ambos, como ele demanda o outro, se reclama ou não, como este bebê demostra se está sentindo alegria, insatisfação, dor, sono”, são questões que precisam ser respondidas, e é importante saber esses pontos, pois o protocolo PREAUT navega sobre essas indagações.
Os extremos sempre serão olhados com cuidado, e com cuidado também foi se lapidando esse modelo de protocolo no Brasil. Após retornar da França, Isabela começou a tirar suas ideias do esboço, juntamente com as outras duas psicólogas durante a capacitação para uso do protocolo PREAUT, em 2013, na Universidade Federal de Minas Gerais em Belo Horizonte. Assim nasceu a ideia de montar um projeto como ponto de partida para a intervenção de bebê que apresentem sinais de sofrimento psíquico, tendo como premissa que este é um sujeito em construção. Com o aval da APAE de Três Pontas, afinal de contas já trabalhava com a prevenção em Saúde, através do Projeto Neonato de Risco que faz acompanhamento em bebês e mães, os quais tiveram qualquer intercorrência no período gestacional. Em 2014, o Projeto ganhou corpo com auxílio do financiamento do Fundo da Infância e Adolescência – FIA Estadual. E não parou por aí, como o trabalho foi propagado na região pela sua qualidade, a ampliação deste, foi feita de forma a atender mais municípios da microrregião de Três Pontas.
Isso graças ao projeto inscrito e enviado para o Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (PRONAS/PCD). A proposta foi aprovada pelo Ministério da Saúde e o projeto cresceu para outras 17 cidades. De acordo com a psicóloga que coordenou o projeto, juntamente com a APAE de Três Pontas, o salto de 2015 até 2018 foi alto, “nós ficamos em 2015, 2016, 2017 e 2018, atendendo a microrregião de Três Pontas, Varginha e Poços de Caldas, então nós tínhamos uma equipe itinerante. Agora com a implantação do Centro Especializado em Reabilitação Física e Intelectual CER II na APAE de Três Pontas, o projeto OLHAR, transformou-se em um programa permanente na instituição”.
Em 2019, o legado já se mostra patenteado na região. A maior dificuldade foi o financiamento durante todo esse percurso. A APAE de Três Pontas abraçou a história e está mais uma vez construindo pontes para conquistas e laços que se mantém devido a um olhar humano de quem sabe que do outro lado, existe uma vida cheia de histórias para contar.
Marcando a avaliação!
Para marcar uma avaliação basta agendar um horário e uma data na APAE de Três Pontas através do telefone 3265-1127. Os atendimentos são feitos através do SUS e acontecem nas segundas-feiras no período da tarde. O procedimento é feito por profissionais da Psicologia e Enfermagem, mais precisamente a Coordenadora da Reabilitação Intelectual do CER II – Isabela Andrade e o também enfermeiro do Centro, Bruno Vinhas.